A importância de assumir um relacionamento
* Por Frederico Mattos
Mesmo já tendo me casado no civil eu também quis me casar celebrando essa união com uma festa, e nisso me perguntaram se eu via alguma diferença entre morar junto, assinar papeis e celebrar diante de todos. Eu já morava junto há um ano e seis meses e essa rotina não se alterou, pois as afinidades e posturas pessoais de convívio já estavam estabelecidas. Mas existe uma sensação de improviso e até clandestinidade numa união que acontece sem um ritual de passagem coletivo. Você não ama mais ou menos por conta disso, é obvio, mas inconscientemente existe uma mudança ao anunciar publicamente seu relacionamento.
Vivemos numa sociedade que ainda traz os seus códigos de convivência e por mais que muitos deem de ombros para as “imposições” sociais elas existem. Ao nos dizermos casados anunciamos para uma coletividade com a qual nem todos tem estômago para administrar. Com o passar do tempo, como figura publica, aprendi a administrar melhor a visão que as pessoas carregavam sobre mim. Ainda que eu fizesse esforços para deixar muito clara a minha maneira de ser e visão de mundo mesmo assim estaria passível de uma análise muito particular de cada pessoa.
Anunciar o status de relacionamento publicamente de forma pessoal ou virtual é uma forma de gerenciar essa projeção que fazemos. É como se a nossa mente se valesse de um olhar hipotético das pessoas para balizar ou reprovar uma atitude minha. Para uma pessoa impulsiva isso é relativamente importante, pois o olhar público imaginário se prestaria como um instrumento de autorregulação que poderia faltar num momento de perda de referências. É como se ao premeditar uma separação ou um tentação de infidelidade o sujeito pensasse na repercussão publica e isso o fizesse reconsiderar suas ações.
Sei que quem quer fazer besteira na vida faz de qualquer forma, com ou sem esse fórum coletivo para preservar suas ações. Sei também que cada pessoa deveria ser plenamente responsável por suas atitudes. Mas o mundo real não é um vale encantado. Uma aliança no dedo, uma papel assinado, uma mudança de status no Facebook, um casamento religioso, queira ou não, repercute e oferece uma informação jurídica, espiritual ou social aos outros e que estará ali preservando psicologicamente pelo compromisso assumido.
Bobo? Desnecessário? Para alguns pode ser, em especial para aqueles que não estão certos de si mesmos (e da relação) e usam o discurso descolado para racionalizar seus temores ocultos. Mas eu particularmente, que me dispus a viver com certa transparência pessoal, não vi nada demais em anunciar e reforçar meus votos de união para o mundo. Fora que é uma sequência interminável de emoções que se passam numa noite (que tem seu preço), mas que recompensa todo o esforço empregado e repercute numa sensação de alegria e boas memórias por muito tempo. E para quem hesita, eu recomendo.