Falta de compromisso
* Por Frederico Mattos
Meu trabalho acontece de hora em hora nos atendimentos, portanto, todos resultado de um compromisso marcado entre eu e uma pessoa. Nesses dez anos já vi de tudo em relação a comprometimento, já atendi pessoas que frequentam disciplinadamente a terapia no horário marcado e caso precisem se ausentar avisam no dia anterior por respeito ao profissional. Mesmo quando passam por um imprevisto avisam de alguma forma e se responsabilizam pelo pagamento do seu horário habitual e assumem que o imprevisto foi delas, sem ônus para os demais.
Mas já vi outros comportamentos que me causam curiosidade até hoje, mas que não se restringem ao meu trabalho e nem a mim.
A falta de comprometimento costuma ser um mal brasileiro e admitido com certo ar de esperteza pelas pessoas. O sujeito marca um encontro não aparece, promete um prazo para entregar um trabalho e não cumpre, jura de pés juntos que vai naquele lugar e não vai.
Penso que existe um problema sério em quem acha isso normal.
Semana passada fui surpreendido com o dono de um imóvel que eu iria morar, pois na véspera de assinatura do contrato e com a arquiteta já tendo iniciado as medições o cara simplesmente impõe novos prazos, valores, condições na tentativa de barganhar um valor maior alegando que já existiam outros interessados. Ele falava como se fosse óbvio para mim e como se os novos interessados me dissessem respeito. Falou uma coisa e fez outra, obviamente eu recuei e se ele intencionava me constranger não funcionou.
Nessa hora me senti como uma garota vítima de um cafajeste, pois eu já estava quase morando emocionalmente na casa nova e de repente sem aviso prévio fui despejado dos meus sonhos. Ainda bem que me recupero rápido.
Vejo isso em homens e mulheres que esbravejam solidão e na hora H quando uma pessoa legal aparece não dão conta do recado, alegam muito trabalho ou medo de se envolver.
A promessa não cumprida parece ser moeda corrente, e a incredulidade coletiva já inventou recursos como “dar o sinal em dinheiro” numa negociação para garantir que a malandragem não ganhe espaço.
E isso se agrava quando a promessa é de mudança pessoal. Regime adiado, maus hábitos mantidos, defeitos enraizados e relações ruins perpetuadas indefinidamente pelo simples costume de falar e não fazer.
Com o tempo ficamos incrédulos de nós mesmos e irônicos com nossa própria legitimidade. Quem paga é a autoestima que não consegue se apoiar em nenhuma boa realização pessoal, pois já foi prometida e não cumprida.
A integridade com os outros começa no próprio quintal de casa. Prometeu, cumpra, mudou, avise, mas não deixe (e se deixe) os outros com aquela esperança vazia.
É bom não se achar imune e dizer que as pessoas são assim mesmo, pois isso provavelmente inclui você e eu nessa lista.
Em tempos de São Tomé, onde só se acredita vendo, valeria a pena voltar um pouco aos tempos em que a palavra valia o fio de bigode.
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094