Quem não gosta de dinheiro?
Quando uma pessoa começa a narrar suas desventuras financeiras e alegar infelicidade pelas limitações financeiras eu faço uma pergunta simples: você gosta de dinheiro?
Diante do susto por uma pergunta óbvia ela responde com outra pergunta: quem não gosta?
Essa resposta-pergunta é bem simbólica.
Pense numa outra situação em que eu pergunte: você ama seu marido? Não seria estranho que ela respondesse: quem não ama?
Não importa se o mundo todo ama ou não ama seu marido, goste ou não goste de dinheiro, importa que você, sem nenhum constrangimento, goste!
Essa resposta que tenta responder sem responder é sinal de uma crença enraizada de assumir o gosto pelo dinheiro, afinal ele sempre veio associado a figuras de vilões ou de pessoas sem escrúpulos.
Na hora de assumir para si mesmo (e para alguém que pergunta) se o dinheiro é um gosto pessoal o sujeito precisa lidar com todas as imagens satânicas que associou a ele. Nessa hora fica difícil assumir declaradamente: gosto de dinheiro! Então ele se esconde atrás de um desejo coletivo para se sentir menos culpado: quem não gosta?
Outros tentam parecer mais descolados e dizem gostar do dinheiro com certo riso eufórico como quem força uma naturalidade.
O ponto é, entrar para o clube dos endinheirados (ou dos que gostam) não é tão simples assim.
Nossa cultura cria uma certo estigma em relação ao dinheiro que divide as pessoas em duas classes: as que tem muito e as que não tem nada. Quem tem alguma coisa não pode se dizer nem miserável o suficiente para se queixar e nem se dizer próspero para exaltar que sobra dinheiro todo mês. Tanto é que as pessoas ricas de origem pobre são mais bem vistas do que as que tem origem rica. Gostamos de recompensar os que se superaram e subestimamos os que mantiveram ou engordaram o patrimônio familiar.
Nem todos, se não a maioria, se sentem confortáveis em assumir a importância do dinheiro sem ter que se justificar dizendo: “gosto de dinheiro, mas também ajudo os pobres” ou “gosto de dinheiro, mas o suficiente para mim”.
Difícil ver quem diz: “gosto de muito dinheiro e ponto”, afinal imediatamente nos associamos ao clube dos malvados que rouba dos outros e não empresta para ninguém.
Ainda que você ache que adora dinheiro, no fundo, sabe que ele cria um constrangimento. É como se o poder do dinheiro abrisse uma caixa de Pandora. Muitos se imaginam milionários distantes do mundo habitual, completamente entorpecidos pelas possibilidades de comprar tudo o que reprimiam na infância pobre.
Mas depois de comprar todas as tranqueiras possíveis a vida segue e o furor inicial passa. Caviar não será mais novidade. E aí?
A imagem que você faz dos ricos e famosos costuma ser o tipo de desejo secreto que guarda em relação a riqueza. Quando fala mal do ricaço da revista Caras está revelando algo de você, ou seja, naquelas condições talvez você quisesse esfregar que tem um carro importado na cara dos que nunca acreditaram no seu potencial.
Se esses desejos esnobes, de humilhar os outros e se distorcer em sua personalidade estão associados à riqueza eu sinto informar, você jamais será rico (ou sairá de uma situação desconfortável).
Dentro de você há um sistema de contenção que evitará qualquer crescimento financeiro que o leve a agir como um arrogante sem caráter.
No inconsciente é esse tipo de associação maluca que fará: dinheiro-maldade/pobreza-bondade. Ou seja, se quiser ser bom permanecerá pobre, mas se quiser ficar rico se tornará malvado.
E aí, você gosta de dinheiro?