A questão do vestuário

* Texto de Juliana Guisilin Cordeiro

Nós gostamos do que sabemos. Quando somos hábeis em alguma coisa sentimos prazer E confiança para ir além sempre. Ao contrário, tudo que é difícil para nós preferimos colocar de lado como se estivéssemos querendo  nos proteger antecipadamente de uma tentativa frustrada. É comum rotularmos o que sabemos como coisas importantes, superiores. Precisamos levantar o ego e assim classificar o que nos é difícil como secundário ou desinteressante e menor em nossa vida.

vestimenta-colonial

Eu tive muita dificuldade com fisica na escola. Não entendia mesmo aquela quantidade de formulas e tudo que saia da boca do professor chgava até mim como codigos indecifráveis. Ainda que eu negue, ela exerce influencia sobre mim. Está presente em atividades cotidianas que nem nos damos conta. Certamente, se eu tivesse tido aula de física em um parque de diversões meu repúdio talvez nem existisse.

Este mecanismo de defesa e classificação acontece também com o vestuário.
Todos os seres humanos tem uma escala de necessidades que precisam ser atendidas antes de se preocupar com o que vestir. É o que diz a pirâmide de Maslow. Precisamos sobreviver em primeiro lugar, ter segurança em segundo, pertencer a um grupo social, e neste a questão dovestuário aparece em maior ou menor escala quando nos vestimos de determinada maneira para pertencer ao grupo que escolhemos.
Talvez a vestimenta nos importe ainda mais quando o que buscamos é a autoestima, o apreço por nós mesmos pode vir também de fora para dentro.

O Brasil ainda está engatinhando quando falamos de cultura de moda ou de vestir. Ainda somos um país que busca atingir necessidades dos dois primeiros degraus. Acho que por este motivo falar ou ler sobre o que vestir ainda é visto por aqui como futilidade ou supérfluo.

Nunca se usou tanto o termo moda para designar o passageiro, o efêmero. Aquilo que vem e vai com a velocidade das mudanças do milênio.

Falamos em carro da moda, cor da moda, celular da moda, músicas da moda, atores da moda, blogs da moda e de moda. Tudo é moda. Tudo o que é e que ao mesmo tempo deixa de ser é moda.

Moda é assunto entre homens e mulheres ainda que os primeiros se neguem a usar o termo. Moda é coisa do século XX e sua aceleração sem precedentes na história da humanidade.

Mas o meu assunto mesmo é o vestuário. Coisa boba, sem importância, secundária, fútil atacada sem piedade por vários. Indústria de sonhos, de criatividade, de arte, empregatícia de milhões e lucrativa de bilhões. há ainda o meio termo dos que nem atacam, nem defender apenas usufruem.

O fato é que ninguém está alheio a questão do vestuário. E ninguém está imune a sua expressividade e interpretação.

Somos capazes de julgar em segundos uma pessoa apenas pelo que ela está vestindo e somos indubitavelmente julgados.

Quando escuto a frase: “eu não ligo para roupas” eu entendo:
– eu não tenho recursos para me importar com isso
– eu não tenho habilidade para me vestir
– eu priorizo outras coisas que julgo superiores

O que fica lá no fundo mesmo é: eu nao gosto de roupas pq nao sei comprar, nao posso comprar e se puder nao sei o que fazer com elas. É uma maneira de se blindar antecipadamente da  frustação.

A vestimenta tem função defensiva, pense nas “armaduras” de soldados, protetiva, cobrir nosso corpo nú, decorativa, não usamos a moda apenas para esconder a nudez. A graça mesmo está em nos adornar. No poderoso olhar no espelho diante de uma roupa que nos faz sentir diferente.

A vestimenta também serve de escolta. Pode ser um grande disfarce de nós mesmos já que nos permite criar o personagem que quisermos e nos camuflar. Portanto,
desnuda e acoberta.

O terno de corte alinhado,  que nos transporta aos personagens mais bem-sucedidos de nossa imaginação, o jeans e a camiseta branca traz o ar sexy de James Dean, a jaqueta de couro liberta o bad boy, a camisa com bermuda nos leva ao jet set. A camiseta,  bermuda e chinelo no escritório remetem aos milionários da internet. Tudo isso só em uma primeira olhada.

Ele pode ser um facilitador na comunicação e ao mesmo tempo criar ruídos. Facilita quando eu me visto em consonância com a mensagem que quero transmitir. Os ruídos são criados quando a minha fala não condiz com o que eu visto. Neste caso, quem escuta não sabe se acredita no que vê ou no que ouve.

É comum eu escutar pessoas dizerem que gostariam de ser levadas mais a sério e quando eu vejo o guarda-roupa encontro possibilidades adolescentes e incompatíveis com o discurso e que pouco refletem a seriedade desejada.

Quem não se lembra da cantora Susan Boyle e da reação dos jurados diante de uma imagem que refletia fracasso?

Repito ninguém está alheio a questão do vestuário e ainda que não nos importemos com o nosso, o dos demais nos gera opinião.

No vestuário existe oportunidade de descoberta das inúmeras personas que há em cada um de nós. Usufrua de todos os seus tipos assim como um ator a cada novo personagem.

Leve a sério esta brincadeira do vestuário e explore a MODA das roupas.

A roupa é um ingrediente do bolo. Sozinha ela não é bolo. Sem ela, o bolo fica incompleto.

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AVATAR JULIANA2*Juliana Cordeiro – Garota urbana, nascida e criada em São Paulo, viajante nata (se é que isto é possível), sonhadora incansável, Consultora de Moda desde pequena, professora, marqueteira, apreciadora do belo em todas as suas formas. Adora brigadeiro e frequentadora assídua de pizzarias na companhia do noivo. Escreve no www.semespartilhos.com.br No Facebook [clique aqui para curtir]

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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