A falsidade é sempre ruim?
A sinceridade e a honestidade são virtudes, sem sombra de dúvida, mas me pergunto até que ponto.
Falar sobre falsidade é no mínimo incômodo, pois é o defeito por excelência. As pessoas toleram traição, assassinato, piadas de mal gosto, mas a falsidade é um desgosto unânime.
Parece que vivemos uma era de transparência absoluta. Tudo deve ser colocado em pratos limpos e às claras. Não há nenhum espaço para nosso mundo secreto.
O que alguns chamam de falsidade pode muito bem ser visto como privacidade. Talvez você não queira revelar tudo a seu respeito. As vezes precisa maquiar uma realidade que só a você cabe.
Conheço muitos ateus que “fingem” uma fé divina em público simplesmente para evitar certos desconfortos sociais. “Ateu é satanista”, “ateu é mau”, “ateu é perigoso” são pensamentos comuns. Ideias falsas, absolutamente falsas. Seriam os ateus secretos pessoas falsas por amortecerem uma realidade pouco aceita?
Não sei dizer.
Uma pessoa é filha “bastarda” de um relacionamento extraconjugal do pai com sua mãe, a amante. Até que ponto vale o esforço de explicar toda a trama de acontecimentos? É falsa essa pessoa que diz que os pais são separados, que ele mora longe ou morreu?
Não sei dizer.
Pessoas ricas que para não se sentirem excluídas da simpatia da maioria omitem seus bens e levam uma vida simples e menos confortável do que poderiam. É justo expor sua fortuna e por esse motivo ser rejeitado, taxado como superficial ou esnobe?
Não sei dizer.
Aquele dia em que tudo está um desastre e você se sente o pior tipo de pessoa possível. Mas para poupar o mundo de seu azedume a pessoa se traveste de um sorriso e diz que está tudo bem. Realmente é necessário rezar o terço do pessimismo para cada um que notar um certo abatimento?
Não sei dizer.
E como não sei o que dizer eu me calo e deixo que o bom senso responda. Falsidade é sempre ruim?