Fidelidade: um treino de personalidade – parte 2
Falei que a fidelidade é um treino para a personalidade [leia mais aqui] vou comentar outras 8 habilidades a serem desenvolvidas no convívio exclusivo a dois.
9- Continência
O vício mais comum do ser humano é apelar ao escapismo emocional, ou seja, sair pela tangente e pegar um atalho para fugir do trabalho duro de ser maduro. É muito fácil deixar o marido/esposa/namorado/namorada assumir o papel do vilão pegajoso enquanto a(o) amante assume o lado bom da história. Penso que a capacidade abrir e fechar uma história com todos os ingredientes que lhe pertencem é valioso. Imagine se está fazendo um bolo e no meio do caminho abrir o forno enquanto a massa crescia. Ela irá desmoronar porque você abriu fora de hora e não porque a massa é ruim.
10- Realismo
Para muitos a felicidade está sempre do lado de fora e bem longe das mãos, no gramado do vizinho. A fidelidade será o espaço para esse treino pessoal de manter um grau de realismo e entender que o próximo relacionamento pode ou não melhorar sua vida, que isso depende muito da própria pessoa em questão e não apenas do parceiro.
11- Humildade
Gostaríamos de imperar como reis absolutos em nossas vidas. A fidelidade coloca você frente a frente com seus demônios pessoais, ou seja, o quão frágil e vulnerável você é diante dos seus medos e vaidades.
12 – Generosidade
A fidelidade é uma forma de generosidade com o outro que (em tese) também dedica tempo e energia considerável na relação com você. É como se um sócio recompensasse o outro pelo esforço mútuo do sucesso da empresa.
13- Princípios
Seria muito fácil ceder a um utilitarismo emocional do tipo que se está à mão e dá prazer pode ser usado. O dinheiro está na rua e ninguém viu, mas deve ser de alguém, devolva. Agir debaixo dos planos é fácil, qualquer um faz, mas seguir princípios invisíveis mesmo quando ninguém vai flagrar você é coisa de gente grande, daquelas que mudam o mundo.
14- Saciedade
Acho que a criança tem todo o direito de tentar se satisfazer com doce e salgado ao mesmo tempo, mas com maturidade isso muda um pouco. Acho um pouco patético (e até doentio, como se fosse um obeso que ataca a geladeira à noite) quando alguém está um relacionamento estável e sai com Deus e o mundo como se tivesse acabado de almoçar e já quisesse jantar ou comer a sobremesa junto com o prato principal.
Admiro a capacidade de uma pessoa se sentir saciada com a experiência que teve (isso não implica acomodação ou conformismo).
15- Criatividade
Acho que qualquer ser humano é um oceano de possibilidades. Somos uma multidão habitando um corpo e, portanto, temos facetas totalmente inexploradas. Limitar uma pessoa dentro daquilo que você acha conhecer dela e partir para outro parceiro é um atestado da sua incompetência como pessoa. É sua tarefa fazer a parceira florescer em suas diferentes manifestações emocionais e extrair dela o melhor que puder. O mesmo comigo, posso me descobrir uma imensidão quando preciso resolver uma questão com apenas um parceiro, ao inves de me espalhar aos montes.
16- Felicidade
Enfim, quero encontrar a felicidade, ainda que humana e cheia de rachaduras em minha própria experiência, e acima de tudo naquelas que construí e vivi, sem saídas fáceis.