O sucesso é um problema
* Por Frederico Mattos
Rodrigo Amarante da banda Los Hermanos disse algo que é valioso numa entrevista em que o jornalista queria desfazer ou relativizar a qualidade de seu trabalho musical:
“é comum no Brasil as pessoas acharem que fazer sucesso é ruim, negativo, ‘se faz sucesso não deve ser bom’. Isso é uma ingenuidade tanto da imprensa quanto das pessoas (…) acho que é ruim para quem é fraco e tem medo de perder isso.”
Realmente, o sucesso é um grande fantasma, desejamos e tememos simultaneamente. Associamos sucesso também a popularidade (e unanimidade) para validar a qualidade de nosso trabalho.
Existem trabalhos e pessoas de sucesso que não tem qualidade, pessoas de sucesso que tem qualidade, pessoas sem sucesso que tem qualidade e pessoas sem sucesso e nenhuma qualidade. Portanto, sucesso e qualidade não estão necessariamente ligados, um pode existir sem a outro.
O desafio de muitas pessoas atingirem o sucesso é exatamente esse desprendimento de poder atingir o topo ou não e mesmo assim seguir em frente.
Na maior parte das vezes as pessoas que nunca atingem o sucesso guardam uma megalomania secreta que as impede de tentar algo com ações práticas e efetivas simplesmente porque temem ter sua autoimagem idealizada corrompida.
É como o mau aluno que não estuda. Ele acha que não tem nada a perder, se tirar uma boa nota irá alegar esperteza, mas se tirar uma nota baixa dirá “eu nem estudei de verdade, não importa essa nota”. Assim somos, dissimulando nosso real desejo de ter sucesso para não correr o risco de ter imagem idealizada de si corrompida. Muitos aceitam os chamados pessoais e se escondemos atrás de uma filosofia de perdedor: “eu nem queria” ou “não é pra mim” ou “isso não tem valor”.
Sim, você queria. Não, você não conseguiu. Isso é demais para sua sensibilidade megalomaníaca que só aceita a glória?
A humildade dos que se destacam provavelmente surgiu de um raciocínio bem diverso do comum. Eles, em sua maioria, pensaram:
“eu quero chegar lá, preciso trabalhar duro, sem distrações, por muito tempo, expandindo sempre, procurando parceiros confiáveis e competentes, oferecendo algo muito bom e estando aberto à reformulações necessárias no meio do caminho”
Havia bom senso e flexibilidade em sua trajetória, não aquela soberba do tudo ou nada. A determinação surge de uma capacidade de se aplicar exaustivamente e sem desistências fáceis ao menor indício de quebra de expectativas. Além disso a dedicação de aperfeiçoamento contínuo que garanta destaque da pessoa em relação ao seu próprio desempenho e não aos outros.
Sair do limbo do desempenho mediano não é tarefa para pessoas que tem um ego frágil e suscetível à mínimos contratempos que desassosseguem sua vaidade.
As pessoas que costumam atacar pedras em quem tem sucesso (grande parte dos brasileiros) com certo desdém normalmente são aquelas que não conhecem o valor do trabalho duro e são afeitas a destruir o que os outros constroem simplesmente por despeito e inveja. Os detratores inveterados costumam ter um pensamento fantasioso de que ela teve destaque porque se deixou corromper por forças malignas. Pequenas em sua vontade de realizar algo significativo transferem seu sentimento de insignificancia criticando aqueles que alcançaram destaque. Daí surge a crítica perspicaz de Rodrigo Amarante em relação aqueles que não tentam e fazem frente a quem tentou e conseguiu destaque “as pessoas se incomodam é de a gente ter feito sucesso”.
Será que muitos que desejam alcançar o sucesso conseguem atravessar o longo e duro caminho de continuar a vida em frente mesmo que nenhum outro arroubo de glória aconteça? Qual o problema de ser um ator de uma novela só? Qual o problema de ser o ator de novela nenhuma?
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.
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