O melhor sexo é aquele que você é capaz de não fazer!
* Por Frederico Mattos
O calor era muito, o desejo subia forte e eles trançavam as pernas como dois animais. Ela sugeriu uma brincadeira diferente, pediu uma massagem bem gostosa. Tirou da bolsa um creme e pediu para que ele a lambuzasse inteira. Prontamente ele começou a tocá-la com a mão, a boca e lentamente espalhar o líquido sobre ela. Passou seu corpo sobre o dela forte e carinhosamente até que a excitação de ambos ficou incontrolável. No entanto, algo estranho aconteceu, o creme que utilizaram resfriava a área aplicada. O calor deu lugar a uma sensação crescente de incômodo gelado misturado com vontade de rir. Foi o que fizeram, gargalharam e apesar de seus corpos esfriaram os ânimos deixaram outro clima rolar. Algo que aconteceu essencialmente no olhar.
Você já reparou como vivemos num mundo sexualizado?
Qualquer tipo de roupa, comida, lazer, automóvel ou viagem sempre carrega consigo um apelo sexual, ainda que subliminar?
Vivemos a era do desejo. Ser bonito, desejado, bom de cama e sensual são atributos muito valorizados. Ouvi de mulheres belíssimas que muitas vezes transam simplesmente para fazer uma performance que esteja à altura da boa aparência que nutrem. “Sou tão bonita, você acha que poderia deixar de transar ou fazer algo sem graça?”
Notou o que há de estranho nessa frase? Apenas a ação é valorizada.
A pausa, o silêncio, o intervalo, a lacuna, a falta, o vazio são ideias monótonas.
Livros de Kama sutra, indústria pornô e papos intermináveis sobre orgasmo revelam uma preocupação coletivo por demonstrar que o sexo é algo essencial numa relação. É um parâmetro, mas não o único.
O autor do relato acima me disse que ficou constrangido com o resfriamento do seu pênis, mas lembrou do texto que escrevi sobre broxar, resolveu relaxar e sorrir. Ele disse que jamais sentiu algo tão forte pela sua esposa naquele momento. Os dois ali parados naquela impossibilidade momentânea tiveram que olhar para além do desejo sexual.
As vezes o sexo é uma fuga da real intimidade de um casal. Afinal, transar é o protocolo básico. Quando um casal não sabe mais o que fazer um com o outro brigam ou transam. Parece uma perspectiva um pouco limitada do relacionamento.
O império do calor sexual assombra muitos casais. Nivelam seu relacionamento pela quantidade de vezes que transam.
Uma vez quando coordenava uma terapia de grupo uma mulher mais velha se queixava da pouca frequência sexual com seu marido. Outra participante mais jovem tentou dar dicas à mulher mais velha que rebateu: “quantas vezes você transa por semana?”. A jovem bonita respondeu “praticamente todo dia”. A outra com fisionomia despeitada concluiu: “também ela é jovem, bonita e recém-casada”.
Em outro momento quando falei com aquela jovem em atendimento individual ela me confessou: “eu menti, faz algumas semanas que não transo com meu marido, mas não podia admitir isso na frente dos outros.”
Alta frequência sexual alta virou termômetro de felicidade conjugal, medem o amor pelo sexo.
Mas me dei conta de uma coisa, sexo é a coisa mais fazer para se fazer num relacionamento.
Animais fazem sexo.
A grande diferença é que podemos ir além do sexo e da sufocante obrigação de por superação. As revistas femininas sempre trazem listas intermináveis de “jogos sexuais para fazer com seu homem”. Como num campeonato sexual se frustram, pois nem sempre uma posição nova, um jogo amoroso ou fervor resolvem o caso.
O casal que não consegue parar no meio do furacão ainda não aprofundou seu entendimento do amor. O que um casal precisa para buscar nova conexão é exercer a liberdade, inclusive para não transar.
Se você é homem vai me entender. Você conseguiria mijar com sua mãe te olhando?
Lógico que é uma cena imaginária, mas a obrigação de transar as vezes pode ser tão ruim como ter sua mãe como testemunha.
Gozar, então, virou um tormento. “Se ela não gozar 3 vezes não me dou por satisfeito”, me falou um rapaz. Tive dó, pois ele estava preso no gozo multiplicado por três, nada menos que isso.
Se para você o sexo se tornou um prazer obrigatório pense numa música sem intervalo entre as notas, seria um ruido grosseiro.
O espaço do olhar, do sentimento, da cumplicidade, da ternura e do entendimento podem causar um efeito muito mais poderoso em alguns momentos do relacionamento do que uma transa.
Olhe sua mulher e penetre ela com seu coração.
Deixe-se olhar pelo seu homem e sinta que ele a toca com um outro tipo de força.
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094