Carta para uma suicida – dia #27 [sobre justiça]

Sobre justiça

*Por Frederico Mattos

A justiça é um conceito controverso, ela parte do princípio de que se as coisas fossem equilibradas e equânimes ficaríamos saciados e satisfeitos. A justiça regularia as interações humanas de tal modo que todos tivessem as mesmas condições e resultados parecidos, sem desequilíbrios.

A vida não é justa, o mundo não é justo se tomarmos as regras como pressuposto. Essa justiça tão almejada não é natural da espécie humana. Como seres sencientes inevitavelmente criamos condições desequilibradas e depois matamos e morremos para garantir o nosso conforto.

O que quer dizer que a justiça não pode ficar solta no vento, como se esperássemos que ela se regulasse sozinha. Ela é responsabilidade nossa, ninguém vai interferir e regular o que sentimos de justo e injusto sobre os outros.

Mas então, sendo nossa responsabilidade parece que escolhemos uma justiça baseada em regras e equanimidade pura. E ela é problemática e engessada.

Nem tudo o que é assimétrico é ruim ou condenável e nem tudo o que é simétrico é bom e elogiável. Porque a regra não considera as conexões e sim o mero comportamento.

Pareceria justo que numa herança 3 filhos recebessem partes iguais baseado no princípio da regra. Na pratica todos sabemos que isso soa injusto apesar de ser justo. Podemos experimentar pensar de outra forma um pouco diferente. E se a divisão de bens tivesse como parâmetro o vínculo entre essas pessoas? Pessoas com vínculos maiores seriam mais beneficiadas? Parece estranho isso certamente, até porque a engenharia para definir isso pós-morte seria delicado. O ponto é que se sabendo disso talvez as pessoas refletissem não em termos de direitos por si, mas de direitos adquiridos por vínculo real. Certamente seria um modelo mais trabalhoso e visto do ponto de vista atual injusto.

Em última instância nosso parâmetro de justiça para ser tocado pela questão do quão somos éticos e capazes de ter bons relacionamentos. Não sou legislador para redefinir o pragmatismo da lei, sou um idealista especulando nossa frágil noção de justiça.

No quesito punição se o critério é a regra colocamos o bandido na cadeia, se o critério é vínculo pensamos em como conciliar essa pessoa com o mundo que a cerca. Muito mais trabalho a curto prazo, menos trabalho a longo prazo.

Uma justiça que realmente coloque as relações no trilho me parecem mais sensatas do que aquelas meramente baseadas em medo e revide.

Quando queremos justiça em nossa vida talvez pudéssemos esquecer se quem nos feriu pagará, mas se quem foi ferido está disposto a seguir em frente mesmo sem a tortura do agressor…
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094