Carta para uma suicida – dia #1 [suicidio]
Sobre suicídio
*Frederico Mattos, psicólogo clínico e escritor
Eu tinha quatorze anos quando considerei seriamente morrer, minha mãe talvez nem saiba disso, mas uma tristeza sem fim me abatia e arrancava todo o pouco colorido que eu via diante de mim. Havia pouco divertimento na minha vida, nenhum sucesso amoroso, nenhuma performance brilhante na escola pública que eu estudava, uma família que oscilava entre carinho e distanciamento. A sensação de rua sem saída é horrível, a queda livre parece não ter fim, é desespero.
Temos tantos preconceitos e mitos sobre o suicídio, eu desconfio que seja aquele lado temeroso nosso que bate na madeira ao pensar em voz alta sobre algo que traga alguma ambiguidade ou confusão. Negamos o suicídio como alternativa de uma vida, mas normalmente não temos respostas do porque seguir vivendo. Caímos em vários clichês como “deus não aprova”, “que desgosto para a família”,
Pode parecer estranho ver uma pessoa pedir ajuda ao mesmo tempo que se afirma com planejamentos suicidas. A verdade é que suicidas pedem ajuda, alguns sutilmente, outros gritantemente, mas ao contrário do mito coletivo, nesses casos, cão que ladra pode morder.
Pode não parecer uma vontade realmente razoável e forte, quando olhamos o texto da leitora, somos céticos quando um enunciado sutil sobre suicídio se manifesta. Tentamos nos proteger do medo da desistência fatal, mas a verdade é que temos medo de encarar alguém que está desistindo de viver. Sondamos nossos motivos possíveis, não conseguimos encontrar uma razão para pensar em morrer. Achamos que nada justifica uma interrupção súbita, mas no fundo não sabemos o que vai no coração de alguém.
Por mais que eu queira fazer todas as forças para trazer algum fôlego para alguém que está pensando seriamente no suicídio, a única coisa que posso oferecer é minha presença, minhas palavras e minha esperança.
É possível demover alguém dessa ideia? É.
É fácil? Não é possível afirmar que sim, mas não é impossível.
Se a pessoa já decidiu isso pode mudar? A resposta não é simples, mas é possível abrir um leque de possibilidades de reflexão.
O que eu penso em fazer? Abrir meu coração, ser honesto, não fazer rodeios, abrir mais 30 dias para além da data derradeira, enfim, abrir espaço emocional.
Por que perguntei abertamente se ela pretendia cometer suicídio? Porque é o que se recomenda fazer diante de uma suspeita desse tipo, só assim é possível conversar sobre o assunto de forma clara e criar um pacto e comprometimento de mudança.
Dar ibope para o suicídio não fazer apologia a ele ou incentivar outros ao mesmo? Falar sobre o assunto de forma glamourizada é problemático, falar sobre isso com franqueza e parceria não.
Eu deveria não ter usado a palavra suicídio com o risco de induzir algo? Ninguém induz uma ideia por fazer uma pergunta, a pergunta clara, pelo contrário ajuda a pessoa entender que é de suicídio que se trata, quanto maior o silêncio e tabu maior é o risco.
Diante do próprio suicídio, o suicida usa eufemismos como “aliviar”, “abreviar”, “fugir”, “encontrar paz”, pois ao dizer suicídio deixamos claro que é de morte que estamos falando, de alguém que planeja tirar a própria vida. É nessa tentativa de esclarecer uma pessoa que se mostrou aberta para repensar seus questionamentos sobre o sentido da vida que essas cartas serão feitas.
Hoje, olhando para trás hoje eu agradeço à minha covardia por não ter seguido em frente, minha visão da vida era bem estreita e eu não tinha realmente olhado para ao redor. Mas sei que existe gente que desistiu de olhar, mesmo tendo olhado pouco.
Pergunta [clique aqui]
1. Sobre o suicídio
2. Sobre o sofrimento
3. Sobre a vida
4. Sobre o amor
5. Sobre a família
6. Sobre solidão
7. Sobre relacionamentos amorosos
8. Sobre ser filho
9. Sobre ser mãe
10. Sobre ser pai
11. Sobre a morte
12. Sobre Deus
13. Sobre doenças
14. Sobre dinheiro
15. Sobre desejo
16. Sobre emoções
17. Sobre motivação
18. Sobre estar perdido
19. Sobre alternativas
20. Sobre dever e obrigações
21. Sobre amizades
22. Sobre fé
23. Sobre traumas
24. Sobre remédios psiquiátricos
25. Sobre dependência emocional
26. Sobre beleza
27. Sobre Justiça
28. Sobre merecimento
29. Sobre perdão
30. Sobre recomeço
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.
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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094