Como sobreviver ao término do relacionamento?
* Por Frederico Mattos
Sobreviver ao término do relacionamento, seja por vontade própria ou não, tem suas dores particulares. Em qualquer situação é preciso se recompor, recolher os cacos, repensar a logística da própria vida e começar uma auto-cirurgia delicada de separação de gêmeos siameses. Mesmo os casais que já se odeiam precisam disso, afinal o ódio deixa duas pessoas ligadas na mesma medida que as idealizações românticas.
Para quem tem ódio a cabeça parece que explode de um jeito diferente, você fica tentando descobrir quem começou a guerra, pois se proteger da própria dor da perda usando a raiva costuma ser um aparente conforto. Mas é uma pomada que seca rápido e logo vem a nova dor incomodar, então é preciso buscar um novo ciclo de raiva.
Quando não há muito ódio e sim decepção, tristeza ou desassossego parece ter uma outra textura. É como se você fosse um pássaro sem ninho ou um leão ferido, vai se arrastando pela vida, colocando atividades no meio do caminho para não entrar em colapso, sobrevivendo entre uma rajada de choro e outra.
Para os que se enganam parece ser menos ruim, eles entram numa busca alucinada de oxigênio, balada, bebida, novas companhias, fotos bonitas nas redes sociais, tudo para simular para si mesmo a tese do “eu estou inteiro e sobrevivi”.
Há muitas formas de sofrer uma perda amorosa, mas certamente a que abre caminhos futuros é respeitar o momento do luto, cada pessoa colocará o empenho de sua própria personalidade nesse processo. Os apressados tentarão dançar pela noite inteira mesmo com a a ferida mal cicatrizada, os raivosos se agarrarão na magoa imaginando que a acusação apaziguará seu senso de injustiça, os metódicos racionalizarão tudo para não deixar que nenhuma faísca os afete, os passivos arrastarão a dor interminavelmente pois terão uma boa justificativa social para atrasar ainda mais a vida.
Os lúcidos seguirão em frente, pisando sobre suas próprias cascas de dor, saudade, esperança, penúria, amor e integridade. Entenderá que não é possível saber o que deve ser feito (não existe caminho certo), mas sabendo o que não deve ser (porque contraria seus valores).
Respeitar a si mesmo é não se atropelar, mas também não ceder aos próprios vícios emocionais diante da dor. Antes de bradar por todos os cantos a racionalização de que “tudo é um aprendizado”, vá aprender de verdade e se debater consigo mesmo, afinal um término de relacionamento é mais que um término mas um recomeço de uma nova fase da vida.