“Essa pessoa tira minha paz!”
* Por Frederico Mattos Quando ouço frases como essa, admito que dou uma risada interna e penso: “como alguém pode realmente acreditar que a outra é capaz de criar (ou tirar) um sentimento que já não estava lá esperando ser evocado?”. Explico meu raciocínio. Se sua sogra, cunhado, vizinho, chefe ou parceiro amoroso provoca sentimentos em você, é porque eles estão ali pré-existentes, aguardando o momento certo de eclodir. Não há uma injeção de raiva numa pessoa pacífica que fica raivosa pelo tom da voz de alguém e nem alguém que inocule o vírus da inveja em outra que de forma geral se sente feliz com a felicidade alheia. Relutamos em aceitar, mas somos mais volúveis do que pensamos e muito influenciáveis pelas ações dos outros. Em outras palavras, estamos mais reagindo do que agindo de modo geral. O tempo entre uma ação alheia, o processamento racional do que foi emitido e nossa reação é aquele espaço sagrado que diferencia uma pessoa sábia de uma criminosa. Nessa fração de segundos é que os condicionamentos surgem numa correnteza e nos levam a fazer o que sempre fizemos. Se você escreve com a mão direita terá o “instinto” (comportamento aprendido e incorporado) de agarrar tudo com a mão direita. Seu reflexo será prioritariamente com a mão direita. Não adianta pensar que, milagrosamente, sem esforço, treino ou dedicação começará a ser ambidestro ou canhoto. Com a personalidade ocorre o mesmo; então aquilo que você chama de “meu jeito de ser”, que surge quando alguém “tira sua paz”, só revela que sua paz era uma cobertura muito fina de controle até que você seja contrariado. A pessoa pacífica é aquela que cultiva uma mente aberta, não restritiva ou preconceituosa, que está disposta ao diálogo e ao entendimento mútuo. Quando provocada, por hábito ela não reagirá mal ou de forma bruta, pois não está condicionada à isso. Já a mente reativa, que adota o toma-lá-dá-cá agirá como um trem desgovernado porque é o que carrega consigo. Se o seu chefe, sogra, cunhado, parceiro amoroso provoca o que há de pior em você, é porque esse pior já existe pronto para sair do forno e só estava esperando um motivo moralmente justificado (na sua visão tendenciosa) para se manifestar. Sem segredo. Ninguém tira sua paz se ela existe de fato em você. ________ * Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“, “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094
Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli