O lado escroto da pessoa amada

*Por Frederico Mattos

Há um momento inadiável e inevitável durante o relacionamento em que nos deparamos com uma parte pouco confessada: o lado escroto do ser amado. Não aquela pisada no pé ou um peido fora de hora, mas aquela falha de caráter ou lacuna de personalidade que completa a peça do quebra-cabeça que faltava. É terrível precisar admitir algo que a gente preferiria disfarçar, mas está ali sutil ou abertamente escancarada na nossa cara.

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Esse tipo de característica nem sempre recai sobre nós, mas se entrevê na maneira como a pessoa lida com estranhos, familiares pouco amistosos ou no ambiente profissional onde parece que tudo é permitido. É doloroso notar como a pessoa vai descrevendo pessoas como se fossem objetos e claramente detonando diante de nossos olhos valores que pareciam inestimáveis.

Até esse ponto ainda parece tolerável e compreensível perceber que as pessoas podem sim deixar sua pior face guardada para outras pessoas inexpressivas, igualmente ruins ou ambientes hostis. O problema é quando finalmente, e nunca tarda, as tintas da vileza da pessoa respinga em nós. Aquilo que contra o qual imaginávamos ser imunes nos atinge em cheio como uma bomba sobre a nossa esperança na humanidade e em pessoas que podem nos fazer o bem e proteger da maldade que está “bem longe de nós”.

A decepção e confusão que se instala parece brutal e irreversível, e por alguns momentos tentamos nos agarrar em justificativas para não perder o chão de confiabilidade. “Não, ela não deve ter visto que fez isso”, “ele não deve ter dito isso com essa intenção”, “era um dia ruim e estava fora de si, não é o normal dele”. Tentamos de tudo para ocultar de nós o lado escuro do amor porque queremos manter a fina película de fé na humanidade. Queremos não acreditar que fizemos uma péssima escolha mesmo nos achando espertos. Enfim, resistimos como uma mãe que se nega a ver os crimes do filho traficante, até que, já sem forças, admitimos que há uma dimensão meio perversa no outro, que não chegaria a manchar completamente o todo da personalidade, mas que já é o suficiente para nos fazer temer um destino ruim.

Já é desconfortável quando percebemos que nós mesmos temos falhas pessoais e aspectos pouco agradáveis, mas se a nossa fera está sob razoável controle tememos lidar com a do outro. Imaginamos como seria passar o resto da vida com alguém que poderia agir, sob determinadas circunstâncias, de um modo hostil, abusivo ou maldoso, ou se aquele traço de personalidade dramático, apagado ou excêntrico seria tolerável 365 dias de vários anos pela frente.

Não existe resposta padrão nem certa, afinal algumas coisas no território humano são imprevisíveis, mas é importante escutar seu radar interno de perigo. Pode ser que o leão fique sempre um gatinho ou que já seja mais que um leão, e a nossa cabeça repouse entre seus dentes. A decisão final sempre será sua, mas negar a realidade não a neutraliza.

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Captura de Tela 2014-08-26 às 10.05.17* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“,  “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094

 

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Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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