A dinâmica do amor nas cidades
* Por José Chadan
O amor sempre nos remete, vez ou outra, ao casamento ou matrimonio. Casamento. O casamento pode ser entendido como: (i) um vínculo natural entre duas pessoas com projetos de vida em comum, desta forma, o casamento anteciparia a formação do Estado; ambos, formados naturalmente, pois assim o conduz a natureza humana; (ii) ou pode ser entendido como um contrato. Todavia, deixemos de lado as querelas filosóficas (Cf. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Bosi, Alfredo e Benedetti, Ivone Castilho. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 118-119)..
É sabido que quando nós, seres humanos, nos organizávamos em clãs, os casamentos se davam tendo em vista os interesses de guerra, paz e prosperidade entre os clãs envolvidos. A moça de um clã acasalava-se ao rapaz de outro clã, até mesmo rivais. Proporcionando desta maneira um acordo de paz. Se os clãs tivessem a priori uma relação amistosa, então podia ser que apenas viçasse a prosperidade material e espiritual dos mesmos, assim como o aumento de ambos por meio da prole.
Os casamentos eram acordos entre duas famílias distintas. Podiam ser mesmo acordos entre dois países rivais, como por exemplo, entre o imperador brasileiro D. Pedro 1º com a arquiduquesa australiana Maria Leopoldina. E desta forma continuaram a ser os casamentos, sem muitas alterações até meados do século 19, quando as mulheres começaram a ganhar status, autonomia econômica e força política.
Os acordos matrimoniais mudaram radicalmente. Desde então, o que daria ensejo ao casamento não seria mais o interesse das famílias envolvidas, mas o interesse dos indivíduos que se casam. Pode ser um interesse profissional, onde parceiros com afinidades de trabalho se ajudam mutuamente ou pode ser o interesse tradicionalíssimo de procriar e criar os filhos.
Fato é que, as formas antigas de matrimônio tiveram seus dias contados com a emancipação da mulher. Por outro lado, o número de divórcios e casamentos relâmpagos aumentou abruptamente.
Às formas de matrimônio, é preciso levar em conta também como se davam as relações na cidade, tanto as comerciais como as afetivas e de livre escolha. É preciso levar em conta o tamanho das cidades e como as mesmas fazem para se sustentar. O comércio marítimo, as taxas de câmbio e tudo o mais.
Se uma cidade é pequena, mas auto-suficiente, tendo nela tudo que seus habitantes precisam, ninguém precisará cruzar a fronteira a menos que queira. Se a cidade é pequena e não possui recursos, muitos terão de buscar recursos fora dela. Já, se a cidade é grande, as relações de amor e de poder acabarão por se tornar um jogo complexo e de sutil força e esperteza.
O tamanho e a dinâmica, seja dos clãs, seja das cidades, influenciará o modo como se dão as relações de amor e de poder, a maneira como os casais devem se unir e se poderão ou não divorciar-se, o número de filhos e a profissão que cada um deles virá a exercer.
A dinâmica e as regras das cidades podem até mesmo “determinar” o quanto tal relação matrimonial durará. Se para a vida inteira (mesmo que seja uma relação de péssima qualidade). Se só enquanto estiver sendo benéfica para os cônjuges. Ou mesmo, se serão relações relâmpagos.
Com base nestas observações, poderíamos levantar várias questões na tentativa de entrecruzá-las: A do amor conjugal, romântico, o amor e o casamento como um contrato burguês e da autenticidade do amor.
“ …e, enquanto o escriba escrevia divagações em seu papiro sobre como ocorre o amor nas cidades,… um centurião cavalgava com seu cavalo nas ruas estreitas de Roma, quando avistou uma moça hebreia, apaixonando-se por alguém que, ainda que não possuísse tantos bens, lhe estava impedida, por causa da dinâmica entre relações de amor nas cidades – uma romana, devendo obediência a Augustus, outra hebreia, devendo obediência a Javé”…
LEIA TAMBÉM:
Dicionário de Filosofia – Nicola Abbagnano. ed. Martins Fontes.
Por amor às cidades – Jacques Le Goff.
O outono da Idade Média – Johan Huizinga.
O Matrimônio – Sören Kierkegaard
1822, Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado – de Laurentino Gomes.
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* José Chadan: Professor, licenciado em história. Bacharel e mestre em filosofia. Escritor, pensador e autor do livro de poesias intitulado, Barca Melancólica (Fonte Editorial). Lecionou na rede de ensino do Estado de São Paulo durante 4 anos. Apresentou palestras para alunos pré-vestibulandos, cursos de jornalismo e participou de encontros e comunicações sobre filosofia medieval e existencialista. Nas horas vagas gosta de assistir cinema, caminhar pelas ruas da cidade e praticar meditação transcendental. Alguns de seus trabalhos estão publicados no blog: www.pistosdarazao.