Overdose de vaidade e a terra dos “ninguéns”
* Por Juliana Baron Pinheiro
Há muitos anos minha família tem casa de praia na badalada Jurerê Internacional , em Florianópolis. Há muitos anos, muito antes de ela ser badalada. E durante a temporada por aqui, a ostentação é onipresente. Para onde se olha, encontram-se carros importados, acelerando nas ruas (esburacas) ou, simplesmente, enfeitando a frente das casas, festas luxuosas e pessoas bem vestidas.
E todo verão eu me pego refletindo sobre toda essa overdose de vaidade. Sobre essa luxúria que toma conta de Jurerê (e, provavelmente, de outros lugares mundo afora), que durante o resto do ano é uma praia como outra qualquer. Sem glamour, além daquele proporcionado pela própria natureza. Pacata, ótima para pessoas que procuram paz e sossego e que de internacional só tem o nome e a arquitetura das casas, que lembra bairros norte americanos.
Mas basta chegar a temporada, que tudo muda. Inclusive, seus moradores que, em geral, deixam as suas casas, principalmente, na semana da virada de ano, onde impera um exibicionismo sem fim. Dos corpos, das contas bancárias, dos carros, das roupas (ou falta delas). Homens sarados e mulheres bonitas saem das baladas, que começam à tarde e vão até o amanhecer do dia seguinte, cantando (gritando) nas janelas dos carros, aquelas músicas que duram longos vinte minutos sem que nenhuma voz apareça.
Gostos à parte, esse texto não chega a ser uma crítica. Eu também já fui jovem (mas sempre com espírito de velha), já frequentei algumas festas, já voltei pra casa descalça, com as sandálias nas mãos (como se vê muito por aqui ao amanhecer), mas posso dizer que nunca me vendi por uma taça de champanhe ou por uma entrada no camarote. Aqui só divido a minha opinião e a minha reflexão sobre toda essa riqueza e excesso, que eu considero, inversamente, pobre e vazia. Inclusive, mesmo jovem, eu sempre soube diferenciar a importância do “ser” e não do “ter”. De berço, aprendi que não preciso e nem devo viver de aparências ou na companhia de pessoas que a cultuam. E isso não me impede de me divertir e de ser feliz.
O que eu vim abordar não são as festas em si, mas esse suposto glamour, construído em cima de um monte de “ninguéns”. Sim, porque eu considero que alguém é alguém, por aquilo que é, na essência, independente do que tem, do que faz e de onde mora. Claro que você pode “ter” e “ser”, ou melhor, “ser” e “ter”, mas eu acredito que a linha é muito tênue entre esses dois caminhos. Lembrei agora do último filme do Woody Allen, “Blue Jasmine”. Nele fica nítido o poder que o dinheiro em abundância pode ter de subverter os mais despreparados e deslumbrados.
Fico me perguntando o porquê dessa necessidade que algumas pessoas têm de mostrar para os outros aquilo que tem. Confesso que faz muitos anos que eu não vou a nenhuma balada de verão daqui, mas o que eu escuto falar de amigos próximos é o cúmulo da pieguice. Apostas de quem gasta mais, mulheres que pagam para os seguranças para subirem nos camarotes, champanhes caríssimos sendo arremessados ao ar. Não que ter dinheiro seja problema e quem tem, deve usufruir os prazeres que ele pode trazer. Mas será que essas pessoas sabem o que realmente dá prazer a elas? Eu falo aqui daquele prazer interior, aquela satisfação pessoal, de você com você mesmo. Será que quando elas deitam a cabeça nos seus travesseiros luxuosos, não fica a sensação de que falta algo? Aquilo que o Mastercard não pode comprar?
Só compartilho com vocês a minha reflexão, porque só mesmo o Fred para divagar com conhecimento sobre essa compensação que se faz de uma coisa por outra.
Essa é só a minha praia. A minha conclusão do que eu observo por aqui. Óbvio que eu também gosto de conforto, mas ostento aquilo que eu sou e não aquilo que eu tenho. Aparento aquilo que eu vivo e não uma ilusão de temporada.
E você?
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* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.