Quem sou eu? – a resposta que se encontra no meio do caminho
* Por Juliana Baron Pinheiro
A pergunta soa clichê, eu sei, mas ela veio como uma avalanche tão forte nesse fim de ano que se aproxima que até uma forte dor de garganta me custou.
“Quem sou eu?”, ando me questionando.
Considerando a pergunta de uma maneira mais óbvia posso responder que eu sou a Juliana, mãe do meu filho, esposa do meu marido, filha dos meus pais, irmã da minha irmã, amiga das minhas amigas, escritora dos meus textos, aluna dos meus professores, paciente da minha psicóloga…
Mas fica nítido pra vocês que essas respostas, de uma forma, são os papéis que eu exerço? E aqui eu não digo papéis no sentido de encenações teatrais. Eu me refiro a “funções”, que podem ser transitórias, sazonais ou condicionadas. Respostas que não alcançam o que eu busco nesse momento. Porque afinal, quem sou eu, além da mãe, além da esposa, além da filha…?
Aprendi esses dias na minha terapia em grupo que função, que é o que mencionei acima, difere-se de identidade, que seria aquilo que nós somos por de baixo das funções, a nossa essência. Metaforicamente, a identidade pode ser comparada à nossa pele, que vai conosco para todos os lugares, que perambula intrinsecamente por todas as áreas da nossa vida, e as funções seriam como roupas que vestimos sobre essa pele.
Assim, a pergunta que me faz companhia nesses últimos dias, entre um compromisso e outro, entre uma reflexão e outra, refere-se à minha identidade. Quem sou eu, do que eu sou feita, quando estou despida de todas as minhas personas? Já usei uma vez aqui o termo “atualização da identidade” pra me referir aos processos de autoconhecimento pelos quais eu passei nos últimos tempos. Mas hoje percebo que foram tantas as atualizações que eu ainda estou me redescobrindo, me redesenhando de acordo com a minha nova realidade, com as minhas novas crenças, convicções e objetivos.
Não pense que é tarefa fácil responder a essa pergunta. Função e identidade se confundem o tempo todo. Elas estão tão imbricadas que em muitos casos, uma se passa pela outra. Como mãe, confesso que muitas vezes me refugiei exclusivamente na maternidade pra me abster de refletir sobre todo o resto. Há os que se escondem no trabalho, os que buscam abrigo na vida acadêmica. Entretanto, essas definições apenas te auxiliam na construção de quem você é, mas não tem a capacidade de substitui-la.
Durante a produção desse texto, comecei a ler o livro “Quando me conheci” do psicólogo Jorge Bucay. Coincidências à parte, a obra se propõe justamente a auxiliar na resposta das três perguntas fundamentais para aqueles que desejam prosperar: “Quem sou? Aonde vou? Com quem?”. E os questionamentos devem vir nessa ordem, porque segundo Bucay “Do contrário, corremos o risco de deixar que nos definam com base no caminho que escolhemos, de permitir que a pessoa que está conosco decida aonde vamos ou, o que seria pior, de definir quem somos em função de quem nos acompanha”.
Achei GENIAL essa colocação. Realmente, o princípio deve ser descobrirmos quem somos, adentrarmos num autoconhecimento, para que então possamos traçar para onde vamos e quem nos acompanhará durante essa viagem. Caso contrário, pode-se perder muito encurtando o caminho. Mudar a ordem das descobertas pode significar pegar um atalho que no fim não te levará a lugar algum.
Sinto informar que ainda não cheguei a nenhuma conclusão. Sigo na expectativa de “quem sabe um dia talvez” definir quem eu sou. Ou não. Porque também acredito que apesar de termos e precisarmos conhecer a nossa essência base, os pilares que sustentam a nossa estrutura para que ao longo da vida, funções possam ir e vir, a cada amanhecer acordamos um tanto diferentes. Um tanto renovados.
E talvez essa seja a graça da coisa. Saber e ao mesmo tempo desconhecer quem somos. Talvez a resposta seja a soma de tudo aquilo que se descobre no meio do caminho entre as certezas e as incertezas das quais somos feitos. Talvez a busca, o que se percebe enquanto se vasculha entre os alicerces, entre aquilo que precisa ir e aquilo que deve ficar, por si só, possa nos guardar gratas surpresas e boas doses de autoconhecimento. Quem sabe…
Convido você a embarcar comigo nesse trajeto entre uma coisa e outra, entre se achar e se perder. Sugiro que você aproveite a paisagem, independente de conhecer ou não o nome do seu destino, já que essa é a segunda parte do processo. Ora preste atenção, ora se entregue àquilo que você consegue ver para além da janela. Anote as ideias que lhe vem a cabeça e não se esqueça de descansar entre uma descoberta e outra.
Considero essa reflexão imprescindível para se entrar, de verdade, inteiro num novo ano. Porque como mesmo nos guia, Bucay, em seu livro, antes de decidirmos aonde vamos e com quem, é preciso nos desafiar para então descobrirmos quem somos.
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* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.