Por que alguém é conservador?

* Por Frederico Mattos, psicólogo

Não existe nada mais gostoso do que saber o que somos, como prever as circunstâncias que nos cercam e ter a conta bancária abastecida por uma soma de dinheiro substancial.

Por outra lado, nada mais perturbador do que ver suas certezas pessoais questionadas, ver seu sofá predileto ocupado por estranhos, seu senso de pertencimento questionado precisar pensar a cada novo dia qual será o sabor do jantar.

Há quem condene o conservadorismo, eu entendo completamente alguém que segue se sentindo completamente certo de tudo o que pensa em detrimento de fazer perguntas básicas sobre sua própria posição.

Quando um filho único ganha um irmãozinho não é raro notar aquele que até então era soberano apresentar certos comportamentos estranhos. Subitamente aquela criança mais segura e cheia de autonomia começa a agir como um bebê, querendo colo, fazendo xixi na cama e falando tatibitate. Intuitivamente os pais sabem que o ciúme não admitido é uma explicação plausível para aquele completamente regredido. Sigmund Freud, pai da Psicanálise, tinha uma boa metáfora para esse acontecimento, quando uma tribo indígena avança numa empreitada de dominação de território ela vai deixando atras de si pequenos grupos que garantem a sobrevivência dos territórios já dominados. Se existe algum tipo de problema na nova exploração a tribo pode recuar para o último ponto dominado, como um checkpoint de videogames. Numa escalada de expansão é melhor assegurar o que já existe do que correr o risco de perder não só o que virá de novo como aquilo que já se conquistou.

Até numa das parábolas de Jesus esse tipo de questão surge quando o filho de um pai muito rico sai para gastar antecipadamente sua herança e depois de fazer mais investimentos retorna à casa do pai que o recebe com alegria e festa. O filho mais velho que nunca saiu de casa se ressente da recepção calorosa e da aparente ingratidão do pai que nunca celebrou sua permanência e lealdade.

A novidade, do ponto de vista emocional, é paradoxalmente uma experiência gostosa tanto quanto dolorosa. Viajar, mudar de casa, entrar ou sair de um relacionamento, entrar ou mudar de emprego, até ficar rico do dia para a noite podem ser vivências emocionais perturbadoras ainda que desejadas.
Ao longo da vida nossa vitalidade é direcionada para construir alguns alicerces dos quais podemos partir para nos relacionar com o mundo. Para cada nova fase desde a saída do ventre da mãe, até o desmame, a retirada de fraldas, a ida para a escolinha, a primeira prova, primeiro emprego e assim por diante.

Então, diante de qualquer ideia nova, por mais que ela pareça trazer algum ponto positivo nós tememos. E frente à uma ideia revolucionária podemos preferir, mesmo que involuntariamente o conforto do que já conhecemos e pensamos funcionar. É lógico que se aquela personalidade ainda está carregada de ressentimento, raiva contida e inabilidade para usufruir e gozar a vida esse conservadorismo pode se transformar numa maneira bem tóxica de mal-estar, não só na esfera pessoal como pública.

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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui] e Mães que amam (demais livros e cursos [aqui]). Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094