O que fazer para deixar uma pessoa brava e irritada?

* Frederico Mattos

Gostaria de falar um pouco sobre pessoas bravas, esquentadas e explosivas. Ao contrário do que todo mundo diz a raiva começa muito antes da raiva aparecer. Eu me arriscaria dizer que a raiva é um sentimento decorrente de uma visão restrita e até limitada da vida.

Em outras palavras, toda pessoa nervosa tende a ser mimada. Mas não sem motivo. A raiva é sempre um sentimento reativo e, portanto, fruto de um desencontro de condições externas com um estado interno anterior à raiva.

A raiva é fruto de um descompasso de suas expectativas com a realidade concreta.

O hábito da raiva é formado ao longo de anos. Raiva qualquer um sente, mas a manifestação constante dela é resultado de uma postura de vida. Vou falar de 6 enganos psicológicos da pessoa raivosa:

1) Eu sei

Essa é uma visão muito particular da pessoa raivosa. Ela tem a impressão de que sabe exatamente o que ela é, o que quer e o que espera dos outros. Essa certeza se manifesta por pontos de vista aparentemente muito coerentes entre si.
Pelo menos para a pessoa raivosa há uma clareza que os outros não enxergam. Essa é a palha onde a chama vai encontrar a oportunidade de incendiar.
“Eu tenho razão!”, essa a visão da pessoa raivosa.

2) Eu paguei, você vai pagar também

É muito comum a pessoa raivosa ter passado por algumas experiências de muita dor (física, psicológica) na infância. Essa dor ao ser digerida precisou de argumentos para ser superada. Um deles é: devo ter merecido, ou seja, se sofri é porque fiz algo para isso.
Se ela acredita que se a sua ação mereceu ser punida, a ação do outro merece o mesmo destino.

De agredido ela passa a agressor, sob a pena de se sentir no direito de punir uma atitude do outro que considera injusta.

A justiça é seu álibi. Olho por olho e dente por dente. Se ela foi castigada o outro deve passar pela mesma pena.

3) Do jeito que eu quero

Se a pessoa tem a sensação que está com a razão e que está fazendo justiça é natural que leve isso a sério.
Ela se torna a justiceira do mundo. Quer torcer as pessoas para ver o mundo da mesma maneira que ela vê. Mas essa lógica é tão personalista que sequer percebe que as pessoas são diferentes dela. Tudo deve ser medido à partir de sua régua.
A rigidez é sua marca, ou teimosia, como preferimos dizer. Se as regras não funcionam como ela quer, não tem brincadeira.

4) Eu na frente

Se ela sofreu e tem razão surge um sentimento de que os outros devem recompensá-la pelo mal que fizeram a ela.
Esse traço inconsciente da pessoa raivosa é responsável por frases do tipo: “só respondi desse jeito (estúpido) porque você não estava me ouvindo.” A idéia implícita é que as pessoas deveriam ouvi-la: “como você ousa não me ouvir?”.
Isso se chama falácia da reciprocidade. Devido nossa tradição judaico-cristã seguimos ou achamos que todos devem seguir a regra de ouro: “não faça para os outros o que não gostaria que os outros fizessem para você”.

Essa regra tem um princípio de humanidade, igualdade e amorosidade incríveis, sem dúvida. Só um detalhe, isso não se torna verdade porque aspiramos que deva ser assim. Na realidade ninguém é obrigado a retribuir nada.

Se você fez algo bom foi por escolha livre e desimpedida. Se eu empresto dinheiro para você hoje, você não tem que me emprestar amanhã. Emprestei porque achei que parecia ser o melhor a fazer, mas não para criar um crédito antecipado com você.

Imagine se um pai ou mãe fosse cobrar dos filhos (isso acontece com quase 100% de casos) o retorno financeiro e psicológico dos anos de criação. Os filhos teriam que pagar com a própria vida e ainda ficariam em dívida. A lógica da reciprocidade é opcional e não impositiva.
Pessoa raivosa, ouça bem, ninguém precisa entender e tolerar você. A não ser você!

5) Não te respeito

Como resultado final a bomba está prestes a explodir.
Por que explode? Porque o raivoso acha que pode! Acredita que o outro terá que lidar com essa conseqüência “dane-se! Ele que agüente, afinal fez por merecer! Me provocou!”. Isso quer dizer que o raivoso cede ao seu sentimento de contrariedade por saber que ficará impune.

Isso explica por que as mães são o alvo preferido de toda pessoa raivosa. Até a pessoa normalmente calma se permite agredir sua mãe. Afinal, mãe agüenta tudo.

Agredimos aquela pessoa que temos a garantia que irá suportar (por amor ingênuo ou fraqueza) a explosão. Lavamos a alma às custas dos outros.

6) Me desculpe

Como resultado final da explosão surge a culpa. No calor das emoções a pessoa fez e falou realidades duras. “Eu não quis dizer aquilo!”
Aquele aparente arrependimento é terrível de se lidar, pois a pessoa possuída e aterrorizante de minutos atrás se mostra dócil e comprometida a nunca mais fazer algo parecido.

Esse ciclo explosão-culpa-nova explosão é fatal. Porque baixada a poeira, a pessoa raivosa tentará se proteger da vergonha e humilhação se armando com novas justificativas. Tentará encontrar as razões pela qual explodiu e o gatilho estará pronto para novo ataque.
A pessoa agredida já estará ciclo após ciclo com a autoestima tão abalada que terá cada vez menos forças para resistir às agressões. E o domínio da pessoa raivosa estará instalado: agressor e vítima estarão com a vida feita.
Feita de dor…

A raiva de fato não terá transformado nenhuma realidade. A pessoa será alvo de temor e não respeito. O amor que poderia obter será escasso e sua dor se perpetuará.
Com o tempo sua jovialidade, beleza, dinheiro e poder diminuirão e suas vítimas se afastarão uma a uma.
A solidão psicológica será o destino dos raivosos (e mimados) de plantão.
A velhice será muito penosa e um duro aprendizado estará disponível: até que ponto valeu a pena estar sempre com a razão?
É necessário esperar tanto tempo?

Agora veja aqui nesse link, tudo o que um raivoso deveria saber sobre a vida!

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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui] e Mães que amam (demais livros e cursos [aqui]). Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas pratica meditação, lava pratos, se aconchega nos braços do seu amor, Juliana e é pai de Nina.

Treinamentos online de “Como “salvar” seu relacionamento” e “Psicologia para não Psicólogos”

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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094