Carta para uma suicida
*Frederico Mattos, psicólogo clínico e escritor
Ontem recebi o seguinte e-mail que passei a trocar respostas com a leitora. Me senti impelido a interromper os textos habituais.
“Olá Fred,
Eu li sobre “R” [aqui], e isso já tem algumas horas e ainda não tenho palavras pra descrever o que eu senti a respeito. Sinto-me completamente sozinha e preciso de orientação, antes que eu e essa caixa de medicamento que tenho agora nas mãos tenhamos um encontro mais próximo além da troca de olhares.
Perdi meu pai aos 6 meses de vida, minha mãe nunca se casou de novo e não tenho irmãos, parentes como tios e primos são distantes, quase que estranhos, por isso desde de sempre fomos eu e mamãe, nos duas juntas sempre, uma cuida da outra, uma é pela outra, uma ora pela outra, somos melhores amigas, cozinhamos juntas, vamos ao cinema, as compras. Eu nunca fui de ter muitos amigos, por opção mesmo, amigos que quando você esta no vale ele não desce pra chorar com você não é um bom amigo.
Eu não tenho um relacionamento a mais 4 anos, no meu último relacionamento fui gravemente agredida física a psicologicamente, e por isso agora tenho meus traumas e medos de me relacionar, também não tenho filhos o que eu na minha opinião estreita mais ainda a minha relação com a minha mãe. Eu sou uma pessoa que crê em Deus e sempre pedi pra Ele que conservasse minha mãe com vida e saúde até que eu me case-se e tivesse filhos para que eu não ficasse completamente sozinha no mundo.
As vezes os planos Dele não batem com os nossos…
Até o dia que minha mãe se sentiu muito mal e eu sozinha fui leva-la ao médico, um dia de exames clínicos e orações, só nos duas como sempre na sala do médico, exames nas mãos e o médico tomado de uma frieza sem igual, vomitou o diagnóstico: é câncer, maligno, com metástase, espalhado pelo fígado. Mamãe estava sentada, e eu de pé, cai no vazio, porque o chão sumiu dos meus pés, isto foi em 16/07 (meu aniversário) não era bem o presente que pedi a Deus.
Eu sei que mamãe vai morrer, todos vão um dia, sei que a morte faz parte da vida, mas se ela se for agora eu definitivamente não terei motivos nenhum pra viver, vou morar sozinha, viver sozinha. Não terei ninguém pra comer comigo na mesa, pra se preocupar se eu me atrasar pra chegar do escritório, pra me mandar levar o casaco a abastecer o carro, pra me dar boa noite antes de dormir, pra cuidar de mim quando eu ficar doente, pra mandar parar de tomar tanto café, pra dizer para parar de ler um pouco e ir ao parque ver o sol…
Quem estará lá quando ela se for? Eu não tenho vontade de estar!
Eu não quero fazer uma besteira, de coração não quero mesmo, eu quero viver, dar continuidade, quero ser forte, superar, tirar minhas lições dessa fase terrível, diante disso, eu quero crescer, amadurecer, criar resistência, e respeito por essa coisa veloz e sensível que é a VIDA. Mas, eu não consigo, não sei como, preciso de um norte, as vezes fico horas sentada na mesa literalmente perdida. Quando ela se for eu não quero me enterrar junto, mas não sei como não fazê-lo.
Abraço,
V.”
Minha resposta:
Deixa eu entender uma coisa. Você está pensando em cometer suicídio (em breve ou depois da morte de sua mãe)?
Réplica
Depois é claro, não faria minha mãe passar por esta dor, seria um sofrimento inenarrável pra ela. Neste momento ela esta internada no vigésimo segundo andar do hospital e eles tem uma janela com trava quebrada, então está decidido, porque eu me recuso a sair daqui e enterrá-la.
Minha tréplica
Vou me-te colocar um desafio. Vou escrever 30 textos e postar um por dia. Longe de serem a solução de algo eu quero compartilhar visões sobre a vida que só esse tipo de questão que você me expõe podem levantar. Sua autorização para tal é importante.
Resposta final
Tem minha autorização. Ansiosa pra ler os outros 29. Agora me obrigo a ainda ter um mês pela frente, pela ânsia de ler esses textos.
Bem, como há o mito de que potenciais suicidas não pedem ajuda, o que não é verdade, que não anunciam, o que não é verdade ou que não estão dispostos mudar, outra inverdade, preferi tomar esse pedido de ajuda como a tentativa mais honesta de V. para ganhar fôlego emocional antes de uma definitivo posicionamento.
Sem nenhuma pretenção onipotente de mudar o destino das coisas resolvi elencar o tema dos próximos 30 textos diários (sério, teremos textos por 30 dias seguidos):
Pergunta [clique aqui]
1. Sobre o suicídio
2. Sobre o sofrimento
3. Sobre a vida
4. Sobre o amor
5. Sobre a família
6. Sobre solidão
7. Sobre relacionamentos amorosos
8. Sobre ser filho
9. Sobre ser mãe
10. Sobre ser pai
11. Sobre a morte
12. Sobre Deus
13. Sobre doenças
14. Sobre dinheiro
15. Sobre desejo
16. Sobre emoções
17. Sobre motivação
18. Sobre estar perdido
19. Sobre alternativas
20. Sobre dever e obrigações
21. Sobre amizades
22. Sobre fé
23. Sobre traumas
24. Sobre remédios psiquiátricos
25. Sobre dependência emocional
26. Sobre beleza
27. Sobre Justiça
28. Sobre merecimento
29. Sobre perdão
30. Sobre recomeço
Amanhã começa a jornada. Sendo bem honesto, eu elenquei o temas que vieram no meu coração, farei o mesmo ao escrevê-los.
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana.
Treinamentos online de “Como salvar seu relacionamento” e “Psicologia para todos”
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Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094