Promessa para o ano novo

*Por Frederico Mattos

O ano vai terminando e surge aquela fadiga exaustiva de quem parece que precisa de 3 meses em coma para poder se recuperar. Mas não é da rotina e do trabalho que precisamos descansar e sim da sobrecarga que nos colocamos de arrastar a todo dia um sonho encantado e impossível.

Quando crianças parecia haver mais simplicidade, brincar e estar com a família nos bastava, mas começamos a achar que para fugir da dor e da frustração precisavamos de mais. Então entramos na busca incasável por ter e parecer o que não somos, colocamos uma couraça de auto-importância e passamos acreditar nas mentiras que contamos, passamos a ser sensíveis à críticas e nos fechamos numa casulo de busca pela perfeição.

Cada ano que passa renovamos os votos da mentira, de enfiar um monte de metas na nossa cabeça que no fundo não queremos viver. A prova disso é que quando estamos fazendo coisas simples e banais, como cozinhas, assistir um filme, conversar com um amigo, fazer cafuné no cachorro nos sentimos realizados, mas então começa a segunda-feira e nos esquecemos de tudo isso.

Dezembro é a grande sexta-feira do ano, todos estão como cachorros famintos olhando o frango grelhar diante dos olhos, fantasiando que as férias conferem um descanso merecido, como se esse fim-de-semana estendido resolvesse tudo. Então vem janeiro de novo e colocamos as expectativas lá no alto, bem no alto e já disparamos para o ano seguinte cansados antes de começar. E por isso criamos o carnaval, para retardar um pouco mais essa auto-exigência excessiva por uma vida sobrecarregada de demandas impossíveis.

Estamos cansados de nos enganar com vidas incríveis, com vidas perfeitas na qual não nos encaixamos bem. Que nos custam trabalhar mais a troco de um pouco mais de dinheiro e que nos rouba e custa muito emocionalmente.

No fundo mesmo, queremos olho no olho, ser abastecido com vida, voltar para casa sem o cansaço de viver, de ter que provar mais um dia para os outros que somos felizes. Se pelo menos os outros, que nem sabemos quem são exatamente, reconhecemos como somos legais, bem sucedidos e dignos talvez ficássemos melhores, mas não ficamos. Toda vez que nos elogiam ou se alegram por nós sentimos inveja, queríamos nos alegrar com a nossa alegria, mas só conseguimos sorrir amarelado e acreditar que somos legais como os outros nos dizem. Temos dúvida disso e seguimos como farsas ambulantes.

Então, eu desejo para você nesse próximo ano, uma vida possível, com mais algodão-doce e menos glamour, com mais pé no chão e menos promessas de ano novo! Mais vida aqui e menos futuro, é isso que desejo para você!

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Alguns vídeos para refletir

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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