Sobre o que eu não farei no dia dos namorados
* Por Juliana Baron
Com a aproximação do Dia dos Namorados, quando tudo parece transpirar amor, e eu vivendo mais uma vez a complexa combinação entre um casamento e a chegada de um bebê, resolvi escrever um pouco sobre relacionamentos. Não, não sou especialista no assunto como o Fred, mas vivendo pela segunda vez esse malabarismo insano para manter o mínimo de compreensão e respeito quando o cansaço toma conta e eu mal consigo conversar com o meu marido, acho que tenho alguma legitimidade para compartilhar um pouco o que descobri nesses últimos anos.
Quando engravidamos do nosso primeiro filho, eu e meu marido (na época namorado) estávamos juntos há apenas seis meses (sim, pensem na confusão). Passado o susto, decidimos morar juntos e super imaturos e despreparados, enfrentamos juntas (e juntos!) duas grandes questões existenciais: o começo de um casamento e a vida com um recém nascido (isso sem contar a instabilidade profissional e financeira).
Juro que ainda não sei como sobrevivemos. Talvez a vontade compartilhada de construir uma família e fazer dar certo tenha nos mantido firmes quando tudo ao redor era instável e enlouquecedor. Só para exemplificar a dificuldade de tornar um namoro recente em um casamento bacana com filhos, de todas as amigas e conhecidas que viveram a mesma situação que eu, na época, só lembro de duas que ainda estão casada com o pai do primeiro filho.
Nesse exato momento, vivemos pela segunda vez essa loucura de tentar conciliar amor, cumplicidade e paciência com falta de sono, falta de tempo e falta de libido. Sim, dessa vez nos planejamos, queríamos muito, mas isso não nos impediu de sermos mais uma vez nocauteados pela avalanche de sentimentos divergentes e limítrofes. Em alguns dias, nos amamos e queremos ter mais uns dez filhos, noutros, mal conseguimos nos olhar.
E foi depois de passar por alguns dias assim (desses que mal podemos nos olhar) e às vésperas de comemorar o tal Dia dos Namorados, que eu resolvi dividir com vocês como será a nossa sexta feira aqui em casa, esse ano. Confesso que eu nem tinha parado para pensar no assunto, mas são tantas propagandas cheias de corações vermelhos, lingeries, jantares e afins, que fui obrigada a me lembrar do que eu não farei nessa sexta feira.
Nesse ano, aqui em casa, não terá saída para jantar (minha mãe está viajando e odiamos a movimentação nos restaurantes nesse dia), presentes (a grana está curta) ou tempo para namorar. Calhou de ser o dia que o filho mais velho dorme nos avós, mas ainda teremos um bebê, que literalmente, suga toda a minha energia e adora dar um show particular até dormir. Ok, mas também não custa um esmero nosso. Quem sabe eu possa colocar uma roupa mais descolada, que não sejam meus pijamas de botões, um sutiã (de amamentação) preto de renda, possa soltar o cabelo (que já começou a cair e o que não caiu por si, morre na mãozinha fechada que adora segura-lo) . Talvez o marido possa cozinhar alguma coisa ou alugar um filme…mas, pensando bem, é melhor não criarmos expectativas (grande lição da maternidade) porque ainda teremos um bebê e nossa possível noite dependerá totalmente da vontade dele. Talvez, SE ele dormir legal, consigamos comer ao mesmo tempo uma comida quente. Talvez, dê para conversar uma meia hora, que certamente me fará falta durante a madrugada ou quando o bebê desperta às cinco da manhã.
Mas sabem o que mais? Não sofro nem cinco minutos pelo dia dos namorados mágico que não viveremos, porque se tem algo que aprendi em todos esses anos precisando amar a minha vida e o meu relacionamento com todas as células do meu corpo, para não desistir diante das barreiras que se apresentam, é a de que não existe fórmula mágica ou receita pronta para que um casamento dê certo. Não são jantares, promessas, sexo ardente/frequente ou presentes que garantirão que nos amamos e nos queremos. Claro que um certo romance é importante, mas também é importante compreender e aceitar, sem sofrimentos, que uma relação vive de fases. A nossa fase agora, nos impede um pouco de ficarmos o tempo que gostaríamos juntos, mas quando menos esperarmos, os filhos crescerão e teremos todo o tempo do mundo para ficarmos grudados até um enjoar da cara do outro.
Assim, desejo um Feliz Dia dos Namorados à todos que se amam e se desejam para além de promessas vazias e presentes ostensivos.
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* Juliana Baron Pinheiro: uniu seu amor pela escrita com um tom questionador que a acompanha desde que nasceu. Costuma refletir sobre a vida, sobre a maternidade, casamento, escolhas e outros temas do seu cotidiano. Adora um curso de autoconhecimento (em especial, os dias da sua análise), fazer faxina e comprar livros. Formou-se em Direito, mas felizmente nunca precisou atuar na área. Hoje é coach e estuda Psicologia. Escreve também no seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), nos milhares de cadernos que coleciona, no projeto do seu livro, no bloco de notas do seu Iphone, nas cartas para os amigos e em qualquer superfície que cruza o seu caminho.
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