7 autores de novela relevantes e como cada um influencia o expectador
* Por Eduardo Benesi
JOÃO EMANUEL CARNEIRO
Talvez ele seja o grande autor do futuro, o “Messi” do time de autores globais. JEC começou com o pé direito: “Da cor do Pecado” novela que tinha a família Sardinha, e contava os desencontros do Paco (Reynaldo Gianecchini) e da Preta (Taís Araújo), lembram? Logo depois veio a genial “Cobras e Lagartos”, outra novela das sete, que abordava o contraste entre o mundo humilde do Saara e do luxuoso império da Luxus ( inspirada na Daslu). A novela teve média geral de audiência de 43 pontos, a maior da emissora no horário desde “A viagem”. A estreia do autor na faixa das 21h foi outro estouro: em “A Favorita” as personagens Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia) protagonizaram um dos maiores duelos entre protagonistas femininas da história da televisão. Mas, sua maior obra ainda estava por vir. “Avenida Brasil” a novela que lançou o fenômeno Carminha (Adriana Esteves) ao posto de maior vilã de todos os tempos. JEC possui uma agilidade ímpar em suas tramas, os conflitos mais substanciais se resolvem em poucos capítulos. É um autor que parece antecipar epílogos, e que opta cada vez mais por tramas enxutas no que se refere ao número de personagens. JEC tem o jeito do cinema e sabe usar isso dentro da teledramaturgia e por isso é o mais completo e grandioso autor de novelas da atualidade.
LÍCIA MANZO
Muitos dizem que ela é a grande substituta de Manoel Carlos. Ele seria um nome obrigatório nessa lista, mas anunciou recentemente a sua aposentadoria em novelas. Achei bastante sensato, já que o autor vinha perdendo a mão em suas tramas, um pouco paradas e sem empolgação, dissonantes da hiperatividade que uma novela exige hoje em dia. Maneco foi, em minha opinião, o maior mestre dramatúrgico que eu já vi em ação em telenovelas, isso na época de suas três grandes obras: “Por Amor” e “Laços de família” e “Presença de Anita”. O que veio depois foi gradativamente perdendo a qualidade. Hoje, a minha grande aposta para tramas suaves, charmosas, mundanas e emocionantes é Lícia Manzo. Ela é recente entre os autores fixos da Rede Globo, e só fez novelas das 18h. Sua primeira novela, “A vida da gente” é a terceira mais exportada da história da Globo, perdendo apenas para “Avenida Brasil” e “Da cor do Pecado”. A história mostrava um triângulo amoroso formado por Fernanda Vasconcellos, Rafael Cardoso e Marjorie Estiano. A delicadeza dramatúrgica e a segurança autoral me fizeram apostar nessa moça como uma das grandes potencias do futuro novelístico. No momento, ela está no ar com “Sete vidas”, fiquem de olho.
GILBERTO BRAGA
De repente, “Babilônia” virou alvo de todos os tipos de críticas absurdas possíveis. Acusada de uma novela que exagera na militância, acabou desagradando boa parte da audiência conservadora. Talvez a diferença para outros folhetins mais “abertos”, tenha sido o fato de essa ser uma novela que não preparou o público, como no caso de “Félix” em “Amor a vida” que “conviveu” com o espectador, redimiu-se de suas maldades para depois ganhar uma espécie de merecimento moral representado pelo selinho gay no último capítulo. A recente “legalização” do beijo gay nas telenovelas, ainda passará por diversos obstáculos, dos mais constrangedores diga-se, já que essa desconstrução de preconceitos é constituída de várias camadas, não só a do beijo em si. O discurso do “pode ser gay, mas não beije na minha frente”, ainda vigora sobre o senso-comum que compõem a audiência. Gilberto Braga mantém-se de pé desde sucessos como “Dancing Days” e “ Vale-Tudo”. Desde “Celebridade” não faz nada muito expressivo, mas ainda assim ele nem de longe é descartável nessa lista.
AGUINALDO SILVA
Aguinaldo Silva é um autor que tem por costume estampar uma auto-referência explicita. Gosta de subir ao palco paralelamente a sua obra, é adepto à polêmica, ao furdunço, e isso mexe com o folclore de suas novelas. Seu currículo inegavelmente esboça um histórico cheio de acertos: “Tieta”, “Roque Santeiro”, “Império”, “A indomada”, “Pedra sobre Pedra”, “Porto dos milagres” e “Senhora do destino” – que alçou Nazaré Tedesco (vivida por Renata Sorrah) à galeria das grandes vilãs folhetinescas. Seu fluxo narrativo parece muito alinhado ao seu temperamento: suas obras são instáveis, geniosas, e conversam muitas vezes com os ecos do público. Aguinaldo não costuma pecar na criatividade; seu regionalismo e o flerte com o realismo fantástico trazem doses de humor bastante úteis ao seu jeito de narrar. O novelista parece muitas vezes reescrever a própria obra de forma melhorada, costuma se repetir explicitamente, mas sem perder o frescor. O autor conta com uma equipe de colaboradores talentosos e gosta de criar vilãs peçonhentas, caricatas e ardilosas. Faz parte de uma velha guarda que não pereceu com o tempo. Sabe fisgar o público e desviar da rota quando necessário.
SILVIO DE ABREU
Silvio de Abreu é também uma grife em termos de trajetória. É um autor adepto a escrever histórias bem acabadas, tradicionais, e costuma escalar uma verdadeira constelação de astros para suas obras – e isso não é proeza para qualquer autor. Sua especialidade é o humor habitual das novelas das sete, mas foi bem quando mudou para o horário das oito. Silvio já experimentou grandes fracassos como “As filhas da mãe” e ecoantes sucessos como “Guerra dos sexos” (primeira versão), “Rainha da sucata”, “A próxima vítima” e “Belíssima”. Recentemente, o autor assumiu a supervisão geral do setor de novelas da Rede Globo e tem declarado que hoje em dia as novelas estão perdendo sua verdadeira essência por tentarem imitar seriados. Defende o valor da história com consistência e do esforço em equipe de atores. “Não gosto da ideia de que se vê novela por não ter mais nada para fazer. Isso me soa muito ofensivo. Acho que a pessoa tem que ver porque gosta, e para isso o autor tem que dar a ela visual, interpretação, psicológico, tudo é importante para criar um produto que dê prazer a quem assiste. Eu me esmero para isso” disse em uma entrevista há alguns anos atrás.
WALCYR CARRASCO
Walcyr é um autor que sempre foi especializado em tramas rurais cativantes no horário das 18 horas. Começou a carreira como jornalista, e tem por hábito fazer uma investigação ampla sobre os tipos que vai abordar, estudando linguagem, sotaque e costumes com minúcia. Desenvolve seu texto a partir da evolução de cada personagem a partir do tom dado ao mesmo pelo próprio ator. Possui diversas marcas caricatas e notáveis como a sempre presença de Elisabeth Savalla, romances rústicos, tramas que tenham sítios repletos de animais com nome de gente e personagens caipiras, sem contar os barracos engraçadíssimos, que sempre envolvem algum tipo de guerra de meleca no meio do tumulto. Mas, as partes mais divertidas de suas tramas são sem dúvida as dos casamentos: eles sempre terminam em alguma confusão homérica. Seus grandes sucessos foram “O cravo e a rosa”, “Alma gêmea”, “Chocolate com pimenta” e “Caras e bocas”. Recentemente foi promovido ao horário das 8 da Rede Globo e sua novela “Amor a vida” foi bastante elogiada, principalmente pela bela construção do vilão Félix vivido por Mateus Solano. Walcyr tem provado que sabe se reinventar sem desagradar o público e isso indica vida longa no grupo seleto de autores globais, ainda bem!
Preciso ressaltar que não considero Glória Perez uma boa escritora de novelas, suas histórias me soam cafonas, estapafúrdias, não gosto das suas escolhas de elenco, e acho que ela se perde um pouco em suas licenças poéticas. Mas, ao mesmo tempo, acho uma autora extremamente importante em relação ao impacto social que promove. É uma mulher que me parece ter muita nobreza empática em relação ao ser humano, essencial e valiosa ao público. Ao utilizar-se de merchandising social em suas histórias, acaba contribuindo com comoções públicas que geram movimentos significativos relacionados a determinadas causas. Quem não se lembra da personagem Mel (Débora Falabella) que passou pelo problema com drogas em “O clone”? Ou da recente novela “Salve Jorge” que tratava do tráfico de mulheres e incentivou,na vida real, uma mãe a denunciar uma quadrilha para salvar a própria filha. Glória Perez também costuma se apropriar de culturas estrangeiras e tecer uma curiosa mescla com os núcleos brasileiros, criando uma verdadeira salada no que se refere à identidade. Considero importante avaliar um autor não só pela qualidade de escrita, mas também pelo impacto que o seu trabalho representa, é o caso de Glória que merece muito estar nessa lista.
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* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br