Maternidade: dores e delícias
* Por Juliana Baron
Fiquei dias tentando encontrar um assunto para escrever por aqui. O prazo ia se aproximando e todos os temas que pipocavam na minha cabeça, circundavam a maternidade. Só que eu queria fugir dela, afinal, esse não é um blog sobre o assunto e minha vida não pode se resumir a isso. Mas sim, nesse período, ela se resume a trocas de fraldas, mamadas, sono, dicas que possam facilitar a vida e quando dá tempo, reflexões sobre essa fase.
Desculpem-me os leitores desinteressados, mas decidi deixar de lutar contra essa necessidade de compartilhar as delícias e as angústias que ando vivendo e aceitar que se meus textos e minhas reflexões são “sobre a vida”, nada mais justo que eles retratem o que estou vivendo nesse momento.
Durante essa minha segunda gestação, tive contato com um livro que posso dizer que mudou o meu maternar. Ele se chama “A maternidade e o encontro com a própria sombra” e foi escrito por Laura Gutman. De forma bem resumida, Laura afirma nele, que a maternidade, além de ser um momento maravilhoso, revela a sombra da mãe (entenda por sombra a parte escura do mundo psíquico e espiritual) e que o bebê (que ela diz ser uma fusão com a mãe), sente como se fossem seus, todos os sentimentos da mãe, sobretudo, aqueles dos quais a mesma não tem consciência.
Na semana passada, posso dizer que encontrei uma das minhas sombras. Vivi dias tristes, melancólicos, em que precisei dar colo quando o que eu mais queria, era receber um. Claro que um pouco dessa tristeza vinha do cansaço, mas eu sentia que algo estava diferente. Meu bebê estava bem, a rotina era a mesma, eu conseguia dormir legal, mas se abriu um buraco dentro de mim e eu só sabia chorar. Olhava o dia lindo lá fora e chorava. Tomava banho e chorava. O bebê dormia e eu chorava.
Algumas pessoas até devem estranhar eu dizer isso, afinal, curti tanto minha gravidez e amo ser mãe, mas só quem passou pelo puerpério (que para Laura Gutman vai muito além de 40 dias) sabe do que eu estou falando. Vivemos sentimentos tão controversos. Eu ficava me perguntando como posso amar tanto, querer tanto e ao mesmo tempo, sentir um vazio tão doído enquanto vivo aquele sonho? E por mais que eu escreva e leia muito sobre como esse é um período delicado para a mulher, não tenho como escapar de sentir a intensidade do meu.
Como não desperdiço uma crise, porque, de verdade, acredito que são elas que movimentam a chacoalham nossas “vidinhas perfeitas”, aproveitei a semana de trevas para refletir e decidi que seria legal compartilhar aqui como eu saí dela.
Para sair desse buraco (que não chegou a ser uma depressão, portanto, se você tem depressão, te respeito e imagino que não é tão simples assim lidar com ela), primeiro, exercitei a arte de reconhecer que TUDO bem eu me sentir assim. Vida perfeita só existe na casa dos outros. Penso que não devemos nos cobrar tanto para sermos “mulheres maravilhas”, que resolvem tudo e no final do dia, ainda estão com um lindo sorriso no rosto. Tenho pavor quando vejo alguém fazendo essa relação ou compartilhando a ideia de que mães possuem uma capa escondida. Se as pessoas soubessem como isso nos sobrecarrega ainda mais (já que ela é super, bóra dar mais tarefas para ela) e faz com que nos cobremos esse equilíbrio desumano entre todas as demandas.
Depois, pedi ajuda. Para o meu marido, expliquei que aquilo não era só cansaço ou encenação. Eu me sentia numa areia movediça e cada vez que ele simplificava a loucura insana que era o meu dia ou me lembrava das mães da Etiópia que tem 23 filhos sem ajuda ou babá eletrônica, eu me afundava ainda mais. Também conversei com amigas que vivem ou viveram essa fase. Acredito que colocarmos para fora e reconhecermos que não precisamos sentir aquele amor doído ou aquela felicidade plena, o tempo T-O-D-O, alivia a pressão. Porque tudo bem sentirmos vontade (VONTADE!) de sacudir o bebê no meio da madrugada durante uma crise de choro. Isso não significa que somos “menos mães” ou que não amemos nossos filhos. Só significa que somos humanas.
Desculpem o desabafo, mas depois de conversar com tantas mães sobre o assunto, decidi usar esse espaço para levar essa mensagem àquelas que possam ter esbarrado com as suas sombras enquanto exerciam esse papel tão genuíno.
Que possamos nos apoiar mais e nos cobrar menos para vivermos a maternidade como ela se apresenta, com todas as suas dores e delícias.
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* Juliana Baron Pinheiro: uniu seu amor pela escrita com um tom questionador que a acompanha desde que nasceu. Costuma refletir sobre a vida, sobre a maternidade, casamento, escolhas e outros temas do seu cotidiano. Adora um curso de autoconhecimento (em especial, os dias da sua análise), fazer faxina e comprar livros. Formou-se em Direito, mas felizmente nunca precisou atuar na área. Hoje é coach e estuda Psicologia. Escreve também no seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), nos milhares de cadernos que coleciona, no projeto do seu livro, no bloco de notas do seu Iphone, nas cartas para os amigos e em qualquer superfície que cruza o seu caminho.