Casamento não foi feito para os jovens
* Por Frederico Mattos
“O casamento não foi feito para os jovens. Ele é um exercício de contradições e decepções que exige maturidade para ensinar a amar” – Elisabeth Gilbert em entrevista para Marie Claire
Adorei essa afirmação de Elisabeth Gilbert. Eu apenas trocaria “jovens” por “imaturos”. Normalmente juventude e imaturidade caminham juntas, mas nem todo envelhecimento traz uma inevitável maturidade.
Casamento não foi feito para imaturos. Explico.
Não há nada mais contraditório, esquisito e cheio de descaminhos terrivelmente lindos que uma união duradoura. Amamos e lidamos com o medo simultaneamente, nos debatemos com a insegurança e o temor por não conseguir atingir nossos sonhos. Tudo isso no meio de uma trajetória de amor. Não é de espantar que tantas pessoas se separam por não saber administrar a própria vida no percurso de um relacionamento.
O que a imaturidade cultiva – o imediatismo, a reatividade (toma lá, dá cá), o egocentrismo e o exclusivismo – são inimigos da parceria amorosa e da sabedoria necessária para lidar com pressões internas e externas constantes. As pessoas mal cuidam de si mesmas, como imaginar que teriam energia para cuidar da pessoa amada.
Esses descompassos do relacionamento amoroso implicam em uma capacidade de suportar o sentimento contraditório de se perceber necessário, mas em última instância dispensável. Sim, somos dispensáveis na vida da pessoa amada, sobrevivemos sem ela, ou seja, se estamos é por escolha e não obrigação.
Para os que não conseguem lidar com a realidade de que o outro não é escravo de nossas vontades, o relacionamento é uma tortura constante. Ter que lidar com o risco de não ser amado e ainda assim sorrir, viver ao lado, apostar sem garantia é para os gênios. De modo geral, somos preguiçosos, queremos tudo de mão beijada, além de garantias de eternidade e imutabilidade que ninguém pode dar para ninguém.
O amor, se encarado como um investimento, é dos mais arriscados e por isso quem tem estômago fraco ou se chateia por qualquer coisa deveria entender que o jogo não é para todos. Mas de modo geral não temos humildade de admitir que somos prepotentes e iludidos demais para recuar ou esperar para apostar numa felicidade madura. Na maior parte das vezes todo mundo quer apostar numa cerimônia rápida para garantir a possibilidade de família e filhos. Normalmente a troco da paz de espírito da relação.
Relacionamento amoroso é uma plantação que se colhe frutos mais saborosos a longo prazo. Há que se ter paciência, não é semeadura para quem adora dizer que quer “tudo para ontem”.
Se você realmente acha que está preparado para essa jornada, não espere respostas certas, percurso linear, preto no branco e promessas cumpridas. É preciso abrir espaço para contradição, loucura, estranhamento, falta de sincronia e uma dose de infelicidade. Se espera a vida perfeita então talvez seja interessante fazer como algumas pessoas no Japão que preferem conviver com um robô.
Com humanos, que você é também, inevitavelmente deve se preparar para se desapontar, sem nenhum pessimismo nisso, mas apenas a consciência dessa beleza no descaminho, pois é na curva errada que fazemos que nos confrontamos com nossa coragem e heroísmo também.
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“, “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094
Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli