Tudo o que você pensou sobre relacionamento pode estar errado
* Por Frederico Mattos
Acho muito bonito quando as pessoas entram num relacionamento e se imaginam velhinhas de mãos dadas, eventualmente morrendo juntas embaladas por algum tipo de música suave de fundo, algo digno do filme Diários de uma paixão.
Mas, curiosamente, as pessoas esquecem de um detalhe importante: nossa cultura (reforçada por cada pequeno ato nosso) vê valor apenas em coisas nobres, perfeitas , limpas, ajustadas e ideais. Basta notar como que somos implacáveis com nossos próprios erros. Se você é incapaz de tolerar e perdoar falhas pessoais, como acha que realmente amaria alguém velhinho, meio surdo, meio cansado, meio sem sonhos e mais perto da morte?
Não fomos criados para amar o imperfeito, o disfuncional, o fraco, o pecaminoso e o covarde. O problema é que tudo o que mais nos deparamos ao longo de um relacionamento de muito tempo é exatamente o retrato da decadência humana. Na intimidade nos esbarramos com a tristeza, a passividade, a covardia para as grandes mudanças, enfim, para tudo aquilo que ninguém posta no Facebook.
Nossa compaixão para com as fraquezas alheias é tão pouca que nós mesmos tentamos a qualquer custo simular uma vida ideal na nossa cabeça, para que não nos defrontemos com os defeitos próprios.
Então, qual seria uma alternativa viável?
Começar a perceber no lado podre da vida algo de admirável. Nossos defeitos morais surgem de um desejo inconsciente de manter a segurança básica do status quo. Até aí, nada de criminoso. Preguiça, egoísmo, inveja, orgulho e até problemas emocionais como depressão, baixa autoestima, ansiedade nascem dessa dimensão que busca conforto e nenhum risco de sofrimento.
A sensação mais aliviante é aquela em que somos pegos com a mão na “botija” e a pessoa, ao invés de nos condenar, nos olha com compaixão, senta conosco e pergunta o que está havendo. Esta abertura para compreender, dialogar, não atacar e ser flexível diante dos fracassos e falhas morais é uma postura que exige humildade e empatia muito bem treinadas. Muito diferente do que achamos já ter feito nos nossos relacionamentos, que costuma ser uma atitude falsamente compreensiva.
Se você é capaz de amar uma pele que envelhece, uma personalidade meio verdadeira e meio falsa, uma vida semi-fracassada, talvez exista chance daquele sonho de envelhecer ao lado da pessoa amada. Sem isso, pode ter uma única certeza: diante de qualquer mínima rachadura você será a primeira pessoa a trocar o antigo pelo novo, o conhecido pela promessa, o imperfeito pelo falso-perfeito. Se você quer a vida perfeita e despreza a vida real, possível, artesanal e cheia de descompassos naturais, então nenhum relacionamento passará do prazo da desilusão, que costuma ocorrer nos primeiro sete anos, quando em geral somos desmascarados em nossas humanidades.
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“, “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094
Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli