Por que decidi ser psicólogo?
* Por Frederico Mattos
Muita gente me pediu para falar sobre esse tema, então resolvi compartilhar. Senta que lá vem história…
Não é um dom, não é um talento; é um punhado de acasos, desencontros, um tanto de sorte e muito trabalho duro. Quem vê minha maneira de atuar, palestrar, escrever ou participar de programas de TV acha que nasci pronto para cuidar dos outros. Ledo engano. Sempre um tímido de carteirinha, daqueles que tem vergonha de pedir informação ou ligar para pedir pizza. Não é para menos que só fui dar um beijo na boca com 22 anos.
Nasci numa família de classe média que foi chacoalhada pelo plano Collor e teve que vender os poucos bens que possuía, fui para escola pública e aquilo evidenciou uma crise conjugal dos meus pais que já se arrastava havia anos. Me preocupava muito com a ideia de que eles fossem se separar e lutei com todas as forças para que isto não acontecesse. Ficava ouvindo minha mãe se lamentar do meu pai e o mesmo com ele; pensava que assim poderia ajudá-los a se entender melhor.
Talvez por esse cenário, tenha me tornado uma criança medrosa, fechada, com poucos amigos e muito imaginativa. Observava o mundo à minha volta, como se tivesse preso numa bolha, para entender o motivo de as pessoas fazerem o que faziam, afinal eu precisava sobreviver nessa selva de intenções confusas. Na escola pública isto me salvou; no primeiro dia de aula um menino chamado Leandro me deu um tapa na nuca e prometeu me atormentar durante o ano todo. Cumpriu a promessa, mas para fugir dele eu ficava dando voltas no pátio da escola e ele andando junto comigo. O resultado é que começamos a conversar e logo ele estava confessando seus problemas de casa. Me adotou e levou para a turma. Ali notei que saber conversar poderia me tirar de várias encrencas.
Eu também era um bom conselheiro. De modo geral, notava que minhas amigas viajavam na maionese quando era notório que os meninos, meus amigos também, não queriam saber de nada enquanto fantasiavam um mundo encantado. Talvez ali eu já estivesse exercitando a psicologia. Minha mãe disse que aos doze anos eu falei à ela que queria ser psicólogo, mas ela refutou dizendo que era uma profissão de mulher. Dei de ombros e disse que seria assim mesmo.
No cursinho já parecia mais claro que a Psicologia seria meu caminho, afinal eu queria poder ajudar as pessoas a se aliviarem de seus fardos pessoais. Fiz trabalho voluntário desde meus 16 anos e descobri que o mundo cor-de-rosa que eu queria acreditar existir era um pouco mais complicado. Cair deste cavalo proporcionou uma visão mais realista, às vezes dura, de como a vida funciona.
Durante a faculdade essa prévia experiência com o voluntariado me ajudou a não ficar dormindo no ponto. Estudei como se não houvesse amanhã. Eu tinha bolsa de estudos e não podia dar mole; o seguro de vida de meu pai, falecido 6 meses antes de eu entrar na faculdade, é que segurou as pontas . Participei de todos os grupos de estudo possíveis na universidade, pedia com toda a delicadeza para os professores e eles me deixavam participar gratuitamente dos encontros. Em troca eu os ajudava com o que fosse preciso. Aquilo fez com que eu fosse querido por eles ao mesmo tempo que aprendia duas vezes mais.
Isso me levou a ser chamado a estagiar numa clínica com outros psicólogos mesmo antes de me formar. Sob supervisão de uma profissional que já atendia há 30 anos, tive meu primeiro paciente. Quando me formei já atendia quatro pessoas, em um ano já tinha 15 pacientes e então não parei mais. Mesmo com aquela cara de menino recém saído da faculdade as pessoas confiavam em mim e estranhamente voltavam.
A profissão sempre foi um sacerdócio para mim, procurei me aperfeiçoar o quanto pude, fiz especializações em múltiplas abordagens, não tinha corpo mole ou preconceito e oposições fundamentais entre Jung e Freud, humanista e comportamental. Isto é uma heresia epistemológica, no entanto, consigo ver interfaces curiosas que, apesar de cada abordagem ter sua visão de mundo própria e aplicação clínica, ainda assim não são completamente descompassadas.
Confesso que certas características de personalidade facilitam o meu trabalho. Tenho habilidade para introspecção muito determinada, ou seja, consigo observar o que há de lindo e terrível em mim com certa desenvoltura. Além disso, uma calma perante contratempos e certa serenidade para não me precipitar em soluções fáceis. A pessoa que não consegue controlar sua impulsividade e reconduzir seus desejos de tal forma que eles não saltem na terapia é fundamental. Durante as horas de atendimentos você fica relativamente ausente de sua vida, quase como um tradutor simultâneo do psiquismo dos outros, e a pessoa narcisista dificilmente cederá esse espaço psicológico por muito tempo. Para ouvir é preciso se esvaziar um pouco.
Como consigo fazer tudo isso? Bem, eu sigo um propósito bem definido em minha vida que é de ajudar as pessoas a amadurecerem emocionalmente; eu luto por um mundo que não precise mais da minha profissão.
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“, “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094
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