Inveja: o defeito nunca admitido
* Por Frederico Mattos
Sou um invejoso em recuperação. Estou há 789 dias limpo, sem uso de inveja. Não foi uma luta fácil, perdi várias vezes na vida e acabei vendo meus melhores dias passarem em vão. Confesso que era do tipo discreto, longe daquelas pessoas que falam mal dos outros ou até passam rasteiras no compadre. Era daqueles que sentem o coração murchar quando vêem alguém conquistando algo.
Coloque-se no meu lugar. Até os 22 anos eu nunca tinha dado um beijo na boca, ao mesmo tempo que todos os meus amigos e colegas me pediam conselhos amorosos. Todos se davam bem e eu ficava com meus bons conselhos sem utilidade para mim. Inveja na certa.
Na infância meus pais, afetados pelo plano Collor, tiveram que vender telefone, carro e me mudar para uma escola pública na quinta série. Os antigos amigos seguiram suas vida normalmente e eu fiquei ilhado na minha vergonha de tempos de vacas magras. Inveja dos brinquedos e vídeo-games que eles tinham. Eu acabava amargando aqueles dias em que me deixavam pegar um pouco no controle para me divertir até resolverem tomar de minhas mãos a alegria.
Na faculdade eu era provavelmente o cara que estudava por causa de uma bolsa recebida pela morte recente do pai. Todos estavam se divertindo nos bares da Rua Maria Antônia, e eu na biblioteca estudando sem parar. Não confessava, mas rolava uma inveja toda sexta-feira quando eu via as pessoas indo se divertir.
Gradualmente muitas coisas mudaram e fui ganhando destaque na minha vida. Parece que o conhecimento e ostracismo antigo me garantiram algum lugar ao sol no campo da psicologia. Namorei uma amiga, depois me juntei com outra, fiquei solteiro, me diverti um bocado e encontrei o amor da minha vida. Mas em muitos momentos deste progresso eventualmente observava que a inveja não ficava menor. Até que decidi torná-la tema principal na minha própria terapia.
Foi um processo doloroso notar como minha inveja se alimentava de três aspectos que eu negava em mim: minha mesquinhez emocional, minha competitividade velada e meu orgulho em pedir ajuda e precisar das pessoas. Foi assim que comecei a enfrentar lá nos meus vinte poucos anos essa fera interior.
A mesquinhez atuava como um guardião da segurança, mas que impedia que eu ousasse. O invejoso é sempre covarde consigo ao mesmo tempo que “admira” quem se arrisca. Passei a me aventurar mais.
A competitividade era a maneira que encontrava para me colocar para baixo. Sempre olhava figuras inatingíveis e perdia de vista meu próprio parâmetro. Se caso eu chegasse num patamar acima, já me ancorava numa figura muito além de mim e ficava sempre com a sensação de insuficiência. Passei a me guiar por metas próprias; isso diminuiu a sensação de ser pequeno, pois em relação a mim mesmo eu já era um gigante.
Já no que se refere ao orgulho, comecei a fazer duas coisas. Admitir os erros sem me condenar e pedir ajuda para as pessoas que eu invejava. Ao invés de criticá-las mentalmente, como um bom invejoso faz para se sentir menos humilhado, eu ia até elas e pedia para aprender algo com elas. Cresci muito e ganhei novos amigos.
Gratidão, sabedoria e generosidade deram lugar à competição, ao orgulho e à mesquinhez. Um pouco pelo menos. Hoje, quando a inveja tenta soar o alarme dentro de mim, já sei que meu suprimento de energia emocional está baixo e que preciso fazer algo para não me concentrar na grama do vizinho. Afinal, já aprendi que todos temos um pouco de grama amarelada em algum ponto da vida. O Nicolas Sparks, autor de dezenas de best-sellers, já não me perturba mais hahaha.
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Compartilho essas e outras histórias, além dos meios práticos para lidar com inveja, raiva, tristeza e medo no workshop “Construindo Maturidade emocional” no dia 29 e 30 de novembro. Aguardo você lá! [clique aqui]
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“, “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094
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