STALKEAR, QUEM NUNCA?
*Por Eduardo Benesi
Antigamente achava o termo “stalker” pejorativo. Pra mim, ele fazia menção a uma espécie de voyeur-virtual-sorrateiro. Um tipo de praga curiosa que cuidava da sua vida de forma anônima. Quase como um fã oculto, que te espiava no seu Facebook, no seu blog, no seu Instragram sem deixar vestígios, curtidas, impressões digitais. Sem te dar prestigio. Talvez por essa ausência de palmas, o stalker passou a ser odiado pelas “beldades virtuais” ou os “caça curtidas”. Aquelas pessoas que criam uma rede de 5000 seguidores, ganham relevância e começam a alimentar sua vaidade através de doses elevadas de like, mesmo não sendo propriamente famosas na vida real. – Como alguém consome o que eu produzo sem dar as caras? Como fulano constrói opiniões a partir das minhas ideias sem me dar o devido reconhecimento?
A partir dessas perguntas, que eu mesmo já me fiz, comecei a enxergar a megalomania que rodeava toda essa minha crise de (semi) estrelismo. Essa relação torta entre o stalker e o stalkeado me parece um pouco obsessiva, doentia e pode ter inclusive altas doses de inveja. Quando somos fãs de alguém, mas ao mesmo tempo nos sentimos rejeitados, é possível que passemos a odiar essa pessoa de tanto admirá-la. Mas passando da condição de admirado para a de admirador, percebo que eu mesmo consumo ideias de pessoas altamente interessantes, mas que eu evito jogar confete por achar a pessoa intelectualmente arrogante. Acontece então, dela ganhar a minha admiração, mas não o meu like. E me desculpem aos que pagam de “low –profile”mas acho que quem tem seguidor quer like sim. Imagina que sem graça seria postar aquela sua foto na academia sem ninguém olhando, aprovando, cultuando.
Lembrei-me da aula de Biologia na época de cursinho, quando estudei sobre as interações entre os animais. O Comensalismo é uma modalidade de relação entre organismos de espécies distintas que se caracteriza por ser benéfica apenas para uma espécie, mas sem causar prejuízo para a parte não beneficiada. E talvez seja assim a relação da qual trato nesse texto.
Comecei a pensar que o mundo virtual era cheio desses instantes em que você percebe que uma pessoa te copiou, mas sem necessariamente ela ter notado que fez isso – é assim que um stalker é pego em “flagrante”. Quando digo cópia não falo em plágio. Plágio é outra história, bem grave por sinal. Falo de ideias, expressões, metáforas, falo de apropriações – quase – espontâneas. É quando você tem aquela sensação de que tem alguém “te seguindo” na rua, mas não vê ninguém a sua volta. Comecei a refletir se eu achava esse trafico de ideias “roubadas” ruim. Inverti a situação e assumi pra mim todas as vezes que “copiei”/adaptei/ me inspirei no outro. Eu sempre achei que a originalidade vinha de coisas já existentes, eram mesmos que apenas mudavam de cor. Que qualquer ideia nasce primariamente de outra que vem antes e que não necessariamente foi minha. E dessa forma percebi que hora eu podia me portar como um “semi-deus” hora como “paga-pau” .
E sendo bastante honesto, hoje vejo que stalkear é saudável, enriquecedor, e tem lá um lado bastante útil. Stalkear pode te render ótimos filmes, textos sobre política, expressões para usar num texto, inspiração para se vestir ou mesmo para perceber o quanto a ideia de felicidade é comparativa. Quem nunca jogou uma pessoa no Google pra saber sobre o seu passado? O stalker é as vezes olhar a grama do vizinho, que de tão mais verde, você resolve ignorar. Quem dera se o mundo fosse mais aberto à troca. Se o ídolo não tratasse o fã como coisa, como um gerador de like. Quem dera se o fã quebrasse a barreira do orgulho e soubesse elogiar um ídolo sem esse ressentimento com doses de inveja. Quem dera se no Face, você também olhasse a sua timeline ao invés de ficar clicando toda hora no seu nome para olhar os seus posts como uma sala de troféus (curtidas) – na vida real, isso se chama “olhar para o próprio umbigo”. Quem dera se um ídolo seu não apenas curtisse pessoas que ele bajula por terem fama social e status virtual ao invés de realmente ler e curtir coisas legais que os “mortais” estão postando. Saber elogiar esses “anônimos” sem que eles precisem ser o Gregório Dudivier. Sim, meus queridos. Desçam do pedestal e vão ali dar aquela stalkeada. Se a pessoa for legal deixe um like de reconhecimento, mas se ela não for, cuidado para não dar aquele like acidental.
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* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br