Por que vivemos correndo?

* Por Frederico Mattos

Ficar sozinho e deixar o pensamento vagar pode ser desagradável para muitas pessoas por causa do condicionamento de nossa mente no dia-a-dia. Normalmente, não cultivamos uma “dieta” emocional de qualidade. Estamos sempre devorando a realidade com aflição, ansiedade e boa dose de pessimismo e reclamação. No momento do silêncio e da solidão, o que surge é esse conteúdo residual tóxico que parece insuportável, mas que só fica evidente porque não estamos particularmente nos distraindo com as tarefas práticas.

Existe uma diferença entre ficar só e ficar com os próprios pensamentos. A maior parte das pessoas fica sozinha, mas nunca em contato com o que pensa. Essa ideia sempre soa meio bizarra, aflitiva e de gente zen que se isola no Himalaia. A prática de contemplação da própria mente é um hábito a ser desenvolvido que as pessoas que estão sozinhas podem ou não adotar.

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Na era pré-gadgets roíam-se unha, faziam-se contas, simulavam-se conversas mentalmente e os corpos se mexiam, ou seja, ninguém ficava centrado no presente. A tecnologia só deu vazão para a inquietude de uma maneira específica e muito efetiva, afinal ela consegue distrair uma pessoa por horas sem que ela se dê um minuto de respiro real.

Hoje a cultura pressiona mais as pessoas para se relacionar, seja social ou amorosamente. É motivo de constrangimento admitir estar em casa numa sexta-feira ou sábado à noite. Estar sozinho voluntariamente parece não ser opção sob o risco de ser visto como fracassado ou anti-social. Além disso, existe uma pressão dentro de quem teme permanecer sozinho consigo mesmo, como se um conteúdo muito perturbador surgisse. É só fazer um teste e tirar 20 minutos para ficar na sala sem nada para distrair e notar como as pessoas se inquietam e imediatamente saem daquela posição. Parece que o vazio emocional toma forma e as pessoas não gostam do que veem.

Existe um utilitarismo temporal, como se tudo fosse muito urgente e indispensável. Somos bombardeados por eventos e objetos de consumo que nos levam a achar que temos necessidade de tudo. A habilidade de selecionar o que se aprecia, incluindo não escolhendo nada, é muito rara de se ver.

A ansiedade cria o corre-corre diário e não o inverso. Quem não tem ansiedade não se deixa levar pela aparente correnteza de compromissos sociais. É sempre a pessoa que dá o ritmo de sua vida, isto é, quem trata tudo como um apagador de incêndios reforçará a sensação de que fazer nada é um crime. A reflexão é uma escolha consciente e não estimulada de modo geral, afinal a ênfase está em viver a vida loucamente e não pensar sobre ela.

Reflexão ajuda a pessoa a brincar com as próprias certezas e sua noção de realidade. Deste modo ela vai questionar o chão sobre o qual está pisando e analisando se as escolhas pessoais estão alinhadas com seus desejos, valores e sonhos verdadeiros.

É muito fácil deixar-se levar pela correnteza de distrações, portanto, tirar um tempo para escrever sobre a vida, fazer anotações num livro reflexivo ou simplesmente devanear olhando para as nuvens do céu é de importância central num mundo tão desconectado de si mesmo.

 

Captura de Tela 2014-08-26 às 10.05.17* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“,  “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094

 

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Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli

 

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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