Dicionário de cinéfilo: alguns termos que vão te ajudar a entender melhor o cinema
Por Eduardo Benesi
Você já deve ter ouvido algum desses termos no vocabulário do seu amigo cinéfilo, e eu te garanto que saber o significado de alguns deles, vai te ajudar a ampliar o seu olhar não só no cinema, mas na vida.
Estética Kitsch – simplificando, é um brega que é chique. É uma estética com termo de origem alemã que se arrisca em elementos excêntricos, muitas vezes exagerados, de estratégico mau gosto, tidos como vulgares e que desafiam ( e agradam) o senso crítico por possuírem essa marca duvidosa. Exemplos de coisas que facilmente podem ser consideradas kitsch por suas características aberratórias ou inadequadas: objetos dourados, coisas descaradamente falsificadas, exagero de cores, combinações absurdas (oncinha com floral, por exemplo), anões de jardim, pinguins de geladeira, uso demasiado de adornos ou enfeites, totens religiosos, quadros orientais com cachoeiras em “movimento”, esculturas muito grandes em ambientes pequenos. Na sétima arte o kitsch é utilizado como algo propositalmente artístico e que por isso torna-se visualmente sofisticado. Exemplos no cinema: todos os filmes de Almodóvar, o italiano “A grande beleza”
Maniqueísmo – é a divisão simplificada e dualista que polariza o mundo entre bem e mal. Muitos filmes se distanciam da realidade humana por trazerem personagens com apenas uma dessas características bem demarcadas. Geralmente os vilões e mocinhos não possuem complexidades e contradições. Exemplos: filmes blockbusters do cinema norte-americano (eles são sempre os mocinhos que salvam o mundo), os protagonistas de novelas brasileiras que se confrontam e criam o conflito principal da trama, desenhos animados, etc.
Road-movie – são filmes que geralmente se passam durante alguma viagem do personagem central. Usam a estrada como um cenário de reflexão, mudança, transformação ou busca de redenção. Nesses filmes o durante é geralmente mais importante do que o destino final. Exemplos de “road movies”: “Na estrada”, “E sua mãe também”, “Thelma e Louise”, “Na natureza selvagem”, “ Diários de motocicleta”, “Pequena miss sunshine”, “Central do Brasil”.
Cinema Noir – é uma espécie de filme pautado em tramas policiais obscuras, irônicas e conspiratórias característicos das décadas de 30 e 40. O termo film noir geralmente é definido como uma estética e não como um tipo de filme em si. Possui diversas influencias do expressionismo alemão e do neo-realismo italiano. Suas histórias geralmente continham personagens arruinados, vivendo algum contexto fatalista. Outras características marcantes desses filmes eram as personagens femininas rebeldes, de moral duvidosa, imersas em universos paranoicos e niilistas. Muitos acreditam que esses filmes retrataram um ciclo histórico que era inconsciente por seus realizadores e por isso, qualquer tentativa posterior de reeditar esse tipo de obra é apenas uma reprodução ilegítima. Exemplos de cinema noir: “Lolita”, “Crepúsculo dos deuses”, “Pacto de sangue” e“Los Angeles –cidade proibida”.
Nouvelle Vague– Foi um movimento do cinema francês sessentista, que trazia filmes transgressores e subversivos geralmente realizados por jovens diretores, que não se adequavam as regras do cinema comercial e defendiam um cinema mais autoral com novas propostas narrativas. Muitos desses diretores (François Truffaut, Jean-Luc Godard, Alain Resnais e outros) transformaram para sempre a história do cinema, já que trouxeram técnicas menos ortodoxas e novidades autorais, com notórias estilizações de imagem, mas sempre com noções aguçadas. Antes de tudo esses ousados diretores eram críticos, entendedores, cinéfilos e frequentadores de cineclubes. Exemplos de filmes da Nouvelle Vague; “Os incompreendidos”, “O acossado”, “Hiroshima, meu amor”.
Alterego –é quando a sua identidade parece repartida em mais de um “eu”. Pode ser interpretada por uma outra pessoa, ou pode ser uma variação de sua própria personalidade, ou dupla personalidade. É como se alguém tivesse exatamente os seus traços de personalidade, um outro eu. No cinema um grande exemplo de utilização de alterego é do diretor Woody Allen. Quando não está presente como ator, ele insere em seus filmes algum personagem que faça por ele o seu próprio papel. São personagens com os mesmos tiques, manias e neuroses do diretor quando atua. Nesse vídeo você consegue notar como isso acontece.
Arquétipo: é o protótipo de algo, é uma representação virtual generalizada de uma ideia. No cinema geralmente ele é representado pelo padrão de um personagem. O vilão, o bonzinho, o herói, o criador, o bobo da corte, o fora da lei, o inocente, o cara comum, o explorador, o mago, o governante, o sábio. Todos esses são tipos demarcados por uma repetição de características que juntas confirmam um tipo. Você já deve ter reparado que basicamente qualquer história é composta por alguns desses exemplos.
Anti-herói – é um potencial herói, mas que possui conflitos e variações de conduta que o colocam em uma posição oscilatória. Por mais que um anti-herói aja como um justiceiro, sua lógica é geralmente maquiavélica: “os fins justificam os meios”. É aquele que para salvar alguém é capaz de tirar vidas, quebrar regras, usar de violência, contradizendo-se moralmente. Exemplo: V de vingança, Wolverine ou Capitão Nascimento.
Plano sequência – é uma tomada de cena que costuma ser mais longa e sem interrupções. Ela pode acontecer no cinema, nos seriados, em novelas, e até em videoclipes. Dentro dessa dinâmica o plano –sequência procura ser fiel a temporalidade real, ou seja, a sua definição se relaciona mais com o objetivo realista do que a sua duração. Ele não necessariamente é sem cortes, mas precisa parecer que é. Exemplo: na cena do filme “Iluminado” que você acompanha abaixo:
Hedonismo – é um termo que compreende uma transgressão, uma liberdade, uma ode ao gozo do momento. Vem da expressão grega “hedonê” que significa “prazer”. É uma teoria que defende a busca pelos prazeres mundanos, mesmo que fugazes. Faz jus a expressões como “curtir a vida adoidado” ou “sexo, drogas e rock and roll”. Exemplos de hedonismo no cinema: “Spring Breakers”, “ Enter the void”, “Bling Ring”ou os filmes de Gus Van Sant.
Filme b – são filmes que possuem uma estética precária proposital. O termo, hoje em dia, se encaixa mais com filmes de terror ou sci-fi com qualidade duvidosa. O cinema b teve origem em exibições hollywoodianas da década de 30 em que aconteciam sessões duplas. Eram filmes de baixo-orçamento que serviam para “completar” a outra metade da sessão. Exemplos de “filmes b”mais atuais: “Machete”, “A prova da morte” e ‘Planeta terror”.
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* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br