Era uma vez uma menina
* Por Juliana Baron
Era uma vez uma menina que nasceu num dia frio de inverno em uma cidade no sul do Brasil. Era a primeira filha de um casal recém-casado e teve o seu nome definido em homenagem ao mês em que escolheu vir ao mundo. Ela estava prevista para agosto e se antecipou para julho.
Era uma vez uma menina que gostava de mandar. Nas brincadeiras com os amigos, sempre tomava frente e acabava como a professora, a mãe, a dona da loja ou a organizadora dos desfiles. Aquela que maquiava, escolhia as roupas e dizia a hora e o quê todos deveriam fazer. Com esse seu jeito e porque sempre terminou rapidamente os exercícios em sala, foi escolhida como ajudante da professora e assim, o faz até os dias de hoje. Ela é a líder da sua turma na faculdade.
Era uma vez uma menina que sempre gostou de escrever. Poesias, histórias, livros, cartas, bilhetes. O tempo nunca se demora se lhe derem um pedaço de papel e uma caneta. Em poucas linhas, ela cria infinitos, transborda pensamentos e se compreende. Ou pelo menos, acha que consegue.
Era uma vez uma menina que era a típica irmã mais velha. Admirada, imitada e sem muita paciência. Era também o elo entre os pais. Muito família, queria que todos se sentissem bem e fazia o possível e o impossível para manter a harmonia. Mais tarde, descobriria que por muito tempo ocupou o lugar errado.
Era uma vez uma menina que teve a tristeza como sua fiel companheira por muito tempo. Ela não sabia exatamente como e nem o porquê, mas degustava uma melancolia como ninguém e talvez por conta dessa parceria, conseguiu seguir adiante.
Era uma vez uma menina que nunca namorou mais de três meses consecutivos. Alguns a chamavam de saidinha, de namoradeira, mas talvez a vida só estivesse lhe reservando a cereja do bolo, o melhor relacionamento, para o momento em que ela estivesse pronta e disponível para vivê-lo.
Era uma vez uma menina que nunca desistiu de tentar se encontrar. Uma menina que hoje sente orgulho de ter sido chamada de ardilosa e de ter ido morar fora do Brasil sozinha, sem conhecer ninguém. Metida que só ela, sempre deu seu jeito para conseguir aquilo que queria.
Era uma vez uma menina que por muitos anos, viveu um paradoxo entre ser quem ela achava que era, quem ela fingia que era para agradar quem tanto amava e quem ela queria ser.
Era uma vez uma menina que se transformou numa mulher, sem nem notar. Não que esse processo tenha acontecido do dia para a noite, mas foi assim, de repente que ela se percebeu. Passou tanto tempo dentro do casulo, que levou alguns anos para reparar nas suas asas de borboleta. Grandes e coloridas, como a das duas que ela tem tatuadas na perna direta.
Era uma vez uma mulher que descobriu seu potencial, sua força e resgatou sua alma, que estava esquecida entre os destroços de um passado que passou. Era uma vez uma mulher que sambou na cara da sociedade e voltou para a sala de aula, mesmo quando todos diziam que era hora de se inserir no mercado de trabalho e parar de “inventar moda”.
Era uma vez uma mulher que mesmo quando escorrega na insegurança ou quando quase deixa sua autoestima lhe escapar por entre os dedos, não recua e não arria. Até dá uma choradinha escondida no travesseiro, mas quando acorda, desperta e levanta. Não só abre os olhos, mas abre a alma e a coloca a postos, pronta para lhe defender dos predadores que vivem camuflados por aí.
Era uma vez uma mulher que construiu uma família maravilhosa. Exemplo, no sentido de que reconhece as suas limitações e convive bem com as diferenças. Uma mulher que descobriu na confusão da maternidade repentina, um caminho para explorar o seu dom e, finalmente, fazer com que ele tocasse a vida de outras pessoas.
Era uma vez uma menina, uma mulher, que tem um coração imenso, mas uma capacidade de reflexão gigante também. Alguém que adora falar, mas que também aprendeu a ouvir e decidiu fazer dessa escuta, aquilo que ela quer fazer para a vida toda.
Hoje, agradeço imensamente essa menina que fui e que, de alguma maneira, ainda sou. Nesses vinte e oito anos de existência, pude experimentar as dores e os sabores de ser eu mesma. Primogênita, mandona, líder, escritora, melancólica, ardilosa, namoradeira, encrenqueira, inquieta, insegura, desfocada, chorona. Aprendi, não sem uma dose de sofrimento, que muito mais importante do que todos esses adjetivos que me foram atribuídos e que acabei por incorporar, é o sentido que EU dou a eles.
Amanhã, dia 18, é o dia do réveillon da minha alma e eu desejo parabéns para mim.
E que venha mais um ano e mais “era uma vez…”.
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* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.