Os dois lados de ajudar os outros

* Por Frederico Mattos

Estava refletindo sobre minha vida e olhei para trás com certo contentamento. O adolescente temeroso e genioso que fui está tão distante do que sou hoje que me soa como outra vida. Tentei imaginar o que aconteceu nesse meio tempo que ajudou a me tornar uma pessoa melhor e notei algo comum nesse percurso. Desde meus 16 anos comecei, por conta própria, a fazer trabalho voluntário e nunca mais parei de me engajar numa atividade que não me colocasse em contato com a possibilidade de auxiliar os outros.

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Reparei que isso teve dois efeitos em mim, o primeiro foi de me desprender de minhas noções de certo e errado e abrir meu coração de forma mais incondicional. A segunda foi de aprender a me alegrar com a vida dos outros tal como ela é, sem que eu ficasse aflito ou tentando salvar vidas.

Nesse percurso, no entanto, me deparei com muitas pessoas que faziam trabalho voluntário por anos e não necessariamente me pareciam felizes ou mais leves. Pelo contrário, seguiam controladoras e agindo como pequenos delegados em suas atividades voluntárias, fazendo de ONG’s seu território de egoísmo e chatice.

A compaixão em si mesma pode ser uma grande ilusão de auto-engrandecimento para quem pratica, e só mais um instrumento de fixação numa certa ideia vaidosa sobre si mesmo.

Para ser completa, a compaixão precisa ser acompanhada de sabedoria, para que não se transforme numa compulsão cega e incansável em ajudar os outros sem um crivo adequado.

Sabedoria de equilibrar o que se dá, como se dá, para quem se dá e quando se dá não é uma fórmula simples e nem óbvia.

Ao ajudar os outros com sabedoria é possível desenvolver uma habilidade paralela ao modo habitual de encarar a vida. Sem perceber você vai amolecendo certos obstáculos impregnados na personalidade que se penduravam na preocupação excessiva com suas aflições.

Quando você coloca a não na massa para movimentar a vida alheia, mas com sabedoria, consegue desenvolver mais compaixão consigo mesmo, tolerar suas falhas, se alegrar com as tentativas e erros sem tanta culpa, peso ou dramaticidade.

Ao usar a sabedoria para ajudar, o outro perceberá que o buraco é mais embaixo e que todos estamos implicados nessa grande teia da vida. Ao ajudar o outro, em última instância, está fazendo algo pelo outro que é você mesmo.

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Avatar fred barba* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.

 

 

Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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