Ventos não permitem caronas
* Por Juliana Baron
Gosto muito do pensamento que diz que “não há vento favorável para quem não sabe aonde quer chegar” porque já esperei que um vento batesse, assim por acaso, e me levasse para um lugar que nem eu sabia onde era.
Hoje consigo perceber que muitas e muitas vezes fiquei parada esperando que algo acontecesse, sem que eu tivesse feito nada no sentido de. Quando olho para trás, também vejo que em vários momentos eu quis colher sem sequer ter plantado alguma coisa. Queria sucesso na carreira profissional, sem ter me dedicado a ela. Queria liberdade, quando nem sabia identificar o que era ser livre. Queria reconhecimento alheio quando nem eu mesma reconhecia que era capaz de alguma coisa.
Não que eu goste da ideia de merecimento, do tipo que prega que só recebe aquele que fez por merecer. Aqui eu quero trazer a noção de disposição e ação, como o inverso de estagnação e preguiça. Escutei uma vez que apenas 20% da conquista de uma meta tem relação com agir na busca de alcança-la, que o restante tem a ver com “acasos”, energias, contatos e afins. E eu acredito muito nessa energia, na sincronicidade das coisas, desde que elas venham concomitantes a um movimento. Deu para entender?
Também lembro que nesse período em que esperei que algum milagre acontecesse na minha vida, que uma rajada de vento batesse e colocasse tudo no lugar, perdia um tempão fuçando a vida dos outros, principalmente, através das redes sociais. Quantas e quantas vezes senti inveja ao ver os outros voando. Porém, como eu já disse certa vez por aqui, a inveja é um sentimento que além de não te levar a lugar algum, ainda te faz perder uma boa parte da sua vida.
Foi aí que eu constatei que apenas invejar o voo alheio não me tiraria os pés do chão. Então, decidi parar de sofrer pela vida que eu não tinha e fiz um movimento em outra direção. Após perceber que nada aconteceria se eu continuasse vivendo da maneira que vivia, voltei para a psicoterapia, iniciei um processo de coaching e só depois que eu coloquei o dedo nas minhas feridas e nos meus sofrimentos, escolhi o meu propósito de vida, defini os meus valores e os meus propósitos, é que um vento direcionado aconteceu. Claro que todas essas definições já mudaram e ainda irão mudar ao longo dos anos. Sei que eu esperarei por outros ventos, em outras ocasiões, por outras direções, mas é muito impressionante a sensação de voar quando você “sabe” aonde quer chegar.
Quem não acompanhou todo o meu processo de mudança daquela menina que vivia chorando angustiada, que culpava a tudo e a todos pela sua inércia, para a mulher que hoje recebe bênçãos e um monte de coisas boas, pode achar que foi um vento casual que aconteceu na minha vida. Só que não.
Digo que também não é fácil se entregar ao vento, mesmo quando você já tem, pelo menos, uma ideia de onde quer chegar. Lembrei agora de um texto do livro do Bert Hellinger, “No centro sentimos leveza”, sobre o qual já escrevi uma vez. Nele, a ideia do vento vem representada pela água. Adoro essa ideia da entrega, que é tão difícil e tão custosa, mas ao mesmo tempo, tão bonita. Escolher um caminho, escolher seguir, mudar, recomeçar, mas para isso, aprender a confiar e se entregar. Fluir.
Então, hoje eu te convido a refletir sobre o seu destino caso um vento soprasse e sobre o que você anda plantando para poder colher no futuro.
Para os que já têm alguma ideia, sugiro a entrega e desejo um bom passeio nas alturas.
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* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.