Novos hábitos para novos começos

* Por Juliana Baron

Eu escrevi dois textos sobre recomeços em março no meu blog, depois de ler e refletir sobre a capa da revista Vida Simples daquele mês, que trazia como tema “Começar de novo”. E como esse é um assunto que me movimenta e me instiga a escrever, resolvi retomá-lo por aqui.

Na reportagem em questão, além dos aspectos sobre os quais eu já escrevi, outros dois que foram abordados também me fizeram querer escrever. O primeiro é a ideia do quanto precisamos deixar espaço livre para que o novo nos invada. Enquanto eu arrumava algumas gavetas no final do ano passado, por ter jogado coisas fora, por ter doado outras e realocado outras tantas, fiquei com duas completamente vazias. Lembro que na hora em que eu vi aqueles dois espaços totalmente livres, cheguei a essa conclusão e me senti tão feliz. Pensei que eu teria espaço para o novo e, automaticamente pensei naquilo como uma metáfora. Como podemos esperar pelo novo se não damos espaço para ele?

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A revista ainda citou David Baker e a sua ideia de que é impossível recomeçarmos do zero, já que carregamos toda uma bagagem de vida. Portanto, segundo o jornalista inglês, é preciso que se olhe para dentro na busca de se desfazer daquilo que não se precisa mais. Isso inclui objetos, hábitos, atividades e relações que não fazem mais sentido. E foi o que eu fiz naquele dia. Não só com as minhas gavetas.

O outro ponto é o que veio numa fala da Eliane Brum, que diz que “é preciso ser capaz de olhar para nós mesmos com estranhamento para que possamos enxergar possibilidades que um olhar viciado tornaria invisíveis. Esse é o processo de se desconhecer como uma forma mais profunda de se conhecer. Para novamente se desconhecer, e assim por diante. Exige muita coragem. Porque dá um medo danado“.

Também acredito demais na importância de se fazer esse estranhamento. Venho pensando muito no que meu professor de Antropologia fala sobre o objetivo dessa área de conhecimento, que é estranhar o familiar e se familiarizar com o estranho. Penso em quantos aspectos da nossa vida passam despercebidos porque já nos são tão familiares. Também na faculdade aprendo sobre o problema de naturalizar o psicológico, como se nascêssemos já com todas as nossas características. Ideia essa que, portanto, as torna imutáveis. Não, somos uma construção! Somos produtos e produtores do meio.

Assim, quem sabe o exercício de se estranhar não seja o que está lhe faltando. Estranhar-se, perceber-se como um quebra-cabeça que foi se montando ao longo da sua existência. Quais peças já não lhe servem mais? Quais precisam sair dali porque não foi você quem as colocou? Quais espaços precisam ficar livres para que você possa seguir um novo caminho?

Como eu escrevi por aqui, no texto “Quem sou eu? – a resposta que se encontra no meio do caminho“:

“Assim, a pergunta que me faz companhia nesses últimos dias, entre um compromisso e outro, entre uma reflexão e outra, refere-se à minha identidade. Quem sou eu, do que eu sou feita, quando estou despida de todas as minhas personas? Já usei uma vez aqui o termo ‘atualização da identidade’ pra me referir aos processos de autoconhecimento pelos quais eu passei nos últimos tempos. Mas hoje percebo que foram tantas as atualizações que eu ainda estou me redescobrindo, me redesenhando de acordo com a minha nova realidade, com as minhas novas crenças, convicções e objetivos”.

Eu precisei me desconstruir e deixar espaços livres para que o novo pudesse chegar até mim. Não, não acredito que se possa “recomeçar do zero”, assim como David Baker. Isso é utopia, já que carregaremos toda a nossa bagagem de vida para onde formos. Nossos erros, nossas conquistas e as lições advindas deles, mas acredito que sim, é possível recomeçar. Desde que deixemos espaço para tanto. E desde que pratiquemos novos hábitos, para novos começos!

 

Baron* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.