Fundo do poço dos inocentes
* Por Adriana Cubas
Recentemente assisti a um episódio de um seriado que me fez refletir sobre como determinadas situações e pessoas causam impactos profundos em nossas vidas.
No episódio em questão, o personagem que é um arquiteto conseguiu realizar o sonho de projetar um grande arranha céu que será inaugurado em breve, e ele manda um convite da inauguração para seu professor de faculdade que um dia lhe disse que ele nunca iria ser um arquiteto. O professor ignora o convite, dizendo que não se lembra dele…furioso, ele resolve ir a faculdade para afrontar o professor e esfregar em sua cara seu sucesso como arquiteto. E adivinha o que acontece? Ele encontra o professor, lhe mostra sua obra e a resposta que recebe é a mesma de quando era estudante: Você nunca vai ser arquiteto.
Ele enlouquece e continua tentando de todas as maneiras provar a esse professor que não é um fracasso, que se tornou um arquiteto de sucesso e bla, bla, bla…. em uma cena ele menciona que gostaria de colocar esse professor em um poço, como o psicopata do filme “Silêncio dos Inocentes” , para poder tortura-lo e se vingar de tanta injustiça.
Ele fica tão obcecado com a idéia que perde totalmente o senso de realidade, se coloca em um papel de vítima e injustiçado que não faz o menor sentido, e percebe que, na verdade, quem ele prendeu no poço para torturar foi ele mesmo.
Quantas vezes não fazemos como esse personagem? Quantas vezes não nos assombramos com frases ditas por pessoas do passado que nos afetam como se fossem ditas hoje?
Um professor que não ia com a sua cara, um chefe que te colocava para baixo, a mãe ou o pai que nunca colocaram fé em você, uma discussão com a/o namorada/o, etc.
Confessa, se você pudesse jogaria todos eles no fundo do poço, é ou não é? Não seria prazeroso tortura-los, provoca-los, ofende-los para sentirem na pele o seu sofrimento? Mas quando fazemos isso, estamos nos colocando no fundo do poço.
Fundo do poço é quando você perde a fé em si mesmo, quando foca suas energias em conseguir a aprovação dos outros, fica obcecado com uma situação mal resolvida, quando se acomoda em uma zona de conforto ilícita que te torna um viciado em ser uma eterna vítima, quando aceita e acredita no que as pessoas lhe dizem de ruim, quando desiste de ter uma vida plena…
Meio pesado não é mesmo? Pense, dá mesma forma que temos poder em nos colocar no fundo do poço, nós temos o poder de nos tirarmos dele e fazer diferente. Basta querer de verdade, e o primeiro passo para sair dessa é afirmando para si mesmo que você não é uma vítima da vida e das pessoas. Assumir verdadeiramente quem você é, sem medo, sem vergonha, sem olhar para trás, enxergar seus defeitos para poder ajustá-los e enxergar suas qualidades para que elas lhe ajudem nesse processo de ajuste e crescimento.
Como o caso do arquiteto, o professor nem se lembrava dele ou do que tinha lhe dito, quem alimentava esse amargor era ele.
Reflita as situações que lhe causam esse amargor, quais as frases ditas no passado que ainda lhe causam impactos negativos, quais as sensações físicas e emocionais reverberam em você.
Vou compartilhar um caso pessoal com vocês. Quando trabalhava como atriz, eu tive um diretor que em todos os ensaios acabava comigo, literalmente… dizia todos os meus defeitos em cena na frente de todo mundo, do quanto eu era travada, descoordenada e tantas outras coisas que me deixavam completamente arrasada, me sentido injustiçada, perseguida, ultrajada! Até que um dia eu não aguentei e afrontei esse meu diretor, perguntei o porque ele não gostava de mim, qual era o problema dele, o que eu tinha feito para ele me odiar tanto… o que ele me respondeu foi surpreendente: “Adriana, eu faço isso porque sei que você é boa atriz, e não consigo entender o porquê você não dá o seu melhor. Você não está fazendo seu melhor e por isso eu pego pesado com você, porque eu me importo. Se eu não acreditasse no seu trabalho eu simplesmente não perderia meu tempo. Agora pare de drama e de o seu melhor!”
Ou seja, eu não só me coloquei no fundo no poço como esfreguei meu rosto na lama…até hoje sou grata a esse diretor pela lição recebida.
Está na hora do resgate! Respire fundo, tenha os equipamentos necessários e liberte-se!
*Adriana Cubas – Coach profissional, formada pela ABRACOACHING e pelo Behavioral Coaching Institute (BCI), fundadora da ACTUS Coaching, atriz e consultora em treinamento e desenvolvimento. Apaixonada por pessoas, suas histórias e sonhos, tem como missão ajudar e fazer parte do desenvolvimento de pessoas nas suas conquistas por uma vida mais feliz e plena. Para mais informações [clique aqui]