Tudo aquilo que você assiste escondido diz muito sobre você
* Por Eduardo Benesi
Sou um defensor de que as pessoas sintam liberdade de assistir ao que quiserem, sou da bandeira dos paradoxos, a hipocrisia sim é um freio nocivo para uma melhor compreensão de mundo. Exemplo: ao se negar a ter contato com itens culturalmente rejeitados você está simplesmente obedecendo a um acato, a um manual de conduta e isso não te ajuda a desenvolver senso critico. Se eu entro em contato com apenas um pólo opinativo, eu de certa forma estou me alienando, não estou me dando chance de refletir e principalmente de comparar e depois sim escolher. Lembre-se de que toda contra-crítica parte de um estudo do objeto criticado, ou seja, é bem provável que aquela pessoa que construiu um discurso contra algo, tenha anteriormente tido contato com aquilo mesmo sem apreciar.
“Não que eu assista, mas pego como exemplo o Big Brother Brasil”: vejo gente repetindo de maneira compulsória sobre a falta de qualidade, e o desserviço que os participantes acéfalos prestam a sociedade, “bundalizando” os valores do brasileiro, e até aí eu assino em baixo. Não vou aqui tentar convencer ninguém de que o BBB é um programa de alto nível, nem que ele vai alavancar o seu QI. O que eu proponho aqui é que você entenda sobre a importância de sentir liberdade para ver o que bem entender, e a partir disso selecionar o seu cardápio de relevância cultural. Falo do BBB porque é um programa que representa, mesmo que de forma negativa, muitos reflexos sociais nossos, é um circo não só sobre quem esta ali participando, mas sobre quem assiste, sobre quem vota, sobre como pensamos, e acima de tudo sobre a nossa mediocridade – um índice vulgarmente importante.
Acredito que a rejeição ao programa não vem apenas de uma ideia pós-concebida de que assistir ao reality show é tóxico ao cérebro, mas vem também de uma projeção, de uma identificação incomoda, um atirar de pedras que nos desvincula daquilo. Falar mal de BBB é também um jeito de fingir que não somos um pouco do que é mostrado. Como se não errássemos português, como se nunca travássemos conversas superficiais, como se nunca fossemos preconceituosos, o BBB é no fim das contas um bode expiratório para as nossas próprias vergonhas, uma lixeira cheia de alivio, e uma desculpa confortável para que não nos sintamos tão ignorantes. Mas, para que qualquer paradigma seja esfarelado, é necessário que um circo midiático se revele, e hoje com a era da internet, temas escondidos e amenizados pela nossa sociedade viram pautas de discussão construtivas justamente a partir de declarações infelizes, e é isso nos informatiza.
Você pode não gostar de BBB, – ou fingir que não gosta -, mas foi a partir de situações ocorridas ali, que diversos temas foram levantados, discutidos, mastigados em âmbito nacional: homofobia, estupro, racismo, Aids, – e hoje na câmara dos deputados temos um ex-vencedor de BBB, Jean Wyllys , que possui uma conduta interessante, que exerce um ativismo corajoso em relação as minorias, além de ter pontos de vista extremamente inteligentes.
Dos grandes problemas que o nosso país tem, talvez um dos piores seja a hipocrisia, um fingimento em massa, pessoas que assistem algo escondido, mas que em público endossam o coro do “anti”. E não, você não tem obrigação nenhuma de dizer aos outros que tipo de produto televisivo consome, mas saiba que tudo o que você assiste escondido, diz muito sobre você.
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* EDUARDO BENESI é Pedagogo, consultor cultural, formou-se também no teatro para atuar escrevendo. É um hispster inconfidente que carrega bandejas com cebolas gigantes para viajar o mundo, e o seu rodizio é de terça-feira. Pede tudo sabor queijo, da abraço demorado e tem um site em que coleciona pessoas e instantes: o www.favoritei.com.br