Por que as pessoas mentem?
* Por Frederico Mattos
Mente quem diz que nunca mentiu. Mesmo as pessoas que acham que são super honestas e verdadeiras cometem falseações para proteger interesses. Até quem se acha transparente e fala “na cara” dos outros está de alguma forma mentindo, afinal forçar transparência exagerada é uma forma de mentir suas vergonhas e fragilidades.
Uma pesquisa feita calcula que mentimos cerca de 200 vezes ao dia. Você que se acha muito transparente e verdadeiro poderá achar que é um exagero, mas se contabilizarmos todo o tipo de mentira é bem possível que esse número seja aproximado da verdade.
Existem pelos menos 5 tipos e variações de mentiras:
1- Mentira por omissão: é o tipo de mentira que busca ocultar algum aspecto repulsivo, reprovável ou condenável de sua ação. É aquela parte da história que pode soar chata, estranha ou repugnante. Na tentativa de arredondar detalhes, você deixa de falar sobre pessoas, lugares ou valores envolvidos. Normalmente o interlocutor do mentiroso é visto como alguém significativo a quem quer se impressionar e sustentar uma visão positiva ou pode ser alguém mais duro e que não toleraria fracassos e problemas.
Ex: “Aquela festa foi incrível estavam todos os meus amigos [e algumas meninas que não quero que você saiba] e nos divertimos muito”. “Não vou poder sair hoje [estou cansado e sem paciência para conviver com ninguém, nada pessoal]”. “Não vou poder sair dessa vez [estou com problemas financeiros e meu orgulho não me permite pedir ajuda]”.
2- Mentira por acréscimo: a mentira de pescador é muito utilizada para valorizar, destacar ou potencializar aspectos que não estavam presentes na história. É a mentira mais comum, daquela que doura a pílula para destacar quem conta. No fundo revela uma grande dificuldade em lidar com a natureza mediana ou medíocre do mentiroso, além de ser uma forma de maquiar suas vulnerabilidades.
Ex: “meu chefe me deu um baita bônus/aumento [não foi nada demais], agora vou pagar de patrão”. “Dei várias naquela noite [tentou duas e uma broxou], fora aquela menina que todo mundo queria pegar [tomou fora]”. “Me diverti muito no feriado [passei em casa comendo porcaria e vendo filme chato, ninguém me chamou]”. “Conheço pessoalmente aquele artista [tirou foto um dia de longe]”.
3- Mentira para beneficiar os outros: é a chamada mentira bondosa que visa poupar outra pessoa de uma realidade dura ou chocante tentando preparar aos poucos o cenário. Quando se trata de uma criança, costuma funcionar como fator atenuante para adequar à realidade dela. Já com adultos, é uma forma de infantilizar ou poupar o outro. Há quem diga que não gosta de ser tratado assim, mas quando ouve a realidade reage descontroladamente.
Ex: “está tudo bem sim [estou mal, mas não quero deixar o clima pesado]”. “Você está ótima [está um pouco estranha, mas nada que seja problemático]”. “Vai dar tudo certo [mesmo vendo que não vai dar]”.
4- Mentira para beneficiar o mentiroso e prejudicar o ouvinte: esse tipo de mentira é aquela que parece pequena e inofensiva, mas acaba desviando o problema de cima do mentiroso para afetar outra pessoa. É o tipo mais perturbador de mentira, afinal costuma surgir das pessoas que mais confiamos e a que mais causa um sentimento de humilhação e traição pessoal.
Ex: não traí você [saindo com outra pessoa há meses], juro por Deus e minha mãe morta. Esse produto nunca teve nenhum tipo de reclamação [sabemos que não é de boa qualidade]. Aquela garota é uma vagabunda [saiu com um cara que ela estava interessada], cuidado com ela, melhor ficarmos por aqui. Chefe, acho que você deveria parar de prestar atenção nos meus erros [não dou conta do meu trabalho] e checar como fulano tem feito o trabalho dele [preciso culpar alguém para desviar de mim a atenção]. Sou cidadão honesto [sonego impostos, passo em sinal vermelho, voto por conveniência e nem lembro em quem]
5- Mentira para si mesmo: é o resultado de um pouco de cada um desses outros tipos de mentiras que contadas tantas vezes parecem reais. São também aquelas versões romantizadas de acontecimentos para que a realidade dura não pareça emocionalmente tão perturbadora. Também se tratam daquelas verdades que forçamos acreditar, pois seria muito doloroso perceber o quanto agimos mal e somos contraditórios, impulsivos ou volúveis.
Ex: “vou estudar para a prova [vai jogar video-game/ver TV/ficar no facebook]”. “Não sou tão egoísta quanto dizem [estou sendo agora ao não admitir que penso exclusivamente em mim]. “Prometo que vou me cuidar mais [não vou]”. “Jamais me envolverei de novo com gente desse tipo [sei que gosto de gente que me faz mal para depois posar de coitadinho]”. “Depois dessa não vou mais tolerar isso e me separarei [não vou, pois sou orgulhoso para admitir o fracasso da relação, admitir minha parte nos problemas e medroso diante das coisas novas]”.
Tem certeza que não vai mentir hoje? Sei que não, você é super mentiroso honesto. 😉
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094
Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli