Será que devo ficar com ele?
* Por Frederico Mattos
Recebo muitos recados virtuais com pedido de ajuda do tipo “Eu me envolvi com um cara que fez ___________ (coisa detestável para qualquer ser humano), mas ele desapareceu e agora está de volta e fiquei na dúvida, devo ou não ficar com ele de novo?”
Leio, respiro fundo e respondo secamente para provocar: “não, caia fora!”. Então a pessoa escreve uma bíblia de explicações para redimir o tal cara que fez um monte de sacanagens. E ela pergunta de novo “agora que expliquei, o que acha?”. Respondo novamente “pior ainda, caia fora”. Então se segue outra quantidade enorme de explicações para amenizar a história e no final o cara é quase um santo.
Penso comigo, se no fundo ela já tinha a resposta de que queria insistir na barca furada, porque veio perguntar para mim? Parece que quer tirar o peso da escolha, mas de outro lado ela sabe que a sua decisão vai levá-la para lugares ruins.
Por que ficam com o cara que fez____________?
– Porque parece haver uma vantagem em seguir numa relação confusa, com altos e baixos e com problemas que não dizem respeito a elas. Se estivessem apaixonadas por alguém que busca um relacionamento bacana talvez ficasse evidente como são instáveis, mimadas e volúveis. Mas enquanto o problema está lá fora é possível permanecer entretida por muito tempo adiante.
– Porque existe certa vaidade em dobrar a vontade de outra pessoa. Quem invoca com outra nesse grau de autodestrutividade parece sentir um desejo de mudar o outro e provar sua personalidade. Ela vai alegar que se trata de amor, mas no fundo é o orgulho de largar o osso e parecer desprezada.
– Porque fantasiou um monte de histórias e acredita nelas. No tempo livre fica alimentando um mundinho próprio onde nada está quebrado e é só um mal momentâneo.
– Porque parece ter uma vontade fraca e ser do tipo de pessoa que nunca assume suas próprias vontades e fica rendida na mão dos outros. Ao lado de alguém numa situação problemática ela vai sofrer, mas continuar a agir de forma passiva, sem bancar suas escolhas.
– Porque a infelicidade é extremamente sedutora. Com ela matamos tempo, criamos inimigos, lutamos contra fantasmas que alimentamos e deixamos a nossa marca cheia de sofrimento e autopiedade nesse mundo.
A felicidade, no entanto, é uma busca insossa, não nos promete nada de especial, acolhe sem distinção a realidade como é, não luta ou se apega às circunstâncias ou se debate com a aspiração de perfeição. No final da jornada, a felicidade não nos garantirá nenhum privilégio, poderes especiais sobre a vida e a morte e nem curvará os demais aos nossos caprichos limitados e autocentrados. Ela é recheada de uma leveza que não se apoia em vitórias e controle, mas num contentamento em coabitar com os outros seres silenciosamente e sem intervencionismo.
Quem, em sã consciência, buscaria essa felicidade de verdade sob o risco de penetrar em território tão desconhecido?
Quem largaria um cara que fez____________ (um monte de coisas detestáveis) para se arriscar na verdadeira felicidade?
CONVITE PARA VOCÊ!
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos
Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli