Não fala você, falo eu!
* Por Juliana Baron
Eu sempre gostei de falar. Mais de escrever do que de falar, mas confesso que não tenho grandes problemas em soltar o verbo (no bom sentido).
Inclusive, quando eu era criança, minha mãe foi chamada na escola porque, segundo a professora, eu terminava as tarefas, acertava tudo e ficava distraindo os colegas. Minha mãe, ao invés de me recriminar, disse que era um dever da escola lidar com a situação. Que ela não podia chamar a minha atenção só por causa disso e que eles deveriam, então, me dar outros afazeres, para que eu não me entediasse e conversasse com os outros. Assim, tornei-me ajudante da professora.
Com o passar dos anos aprendi a controlar um pouco o falatório. Passei a alternar momentos em que sinto necessidade de silêncio absoluto (mesmo em lugares públicos) e momentos em que sinto necessidade de me expressar. Passei a rever a qualidade do que eu falo, para quem eu falo e o porquê das minhas falas. Busca essa que se acentuou desde que mergulhei em processos terapêuticos, que se utilizam, justamente, da fala para captar o que está por detrás delas.
Também aprendi a canalizar essa minha facilidade em falar. Aliás, essa é uma das minhas metas para esse ano, melhorar a minha oratória, já que eu escrevo melhor do que eu falo e, vez ou outra, me vejo muda diante de um leitor. Porque por mais que eu seja desinibida para falar em público, sei que preciso aprender os macetes da oratória para não ficar em saias justas quando precisar dialogar sobre os assuntos que eu amo escrever.
Fiz toda essa introdução (também escrevo demais) com o intuito de compartilhar uma reflexão que serviu quase como uma libertação para uma culpa que eu carrego desde sempre. A reflexão surgiu, dia desses, quando fui numa palestra gratuita de uma coaching conhecida daqui da minha cidade. Segundo ela, que sempre gostou de falar e que fala muito bem, seus amigos sempre a questionaram porque que ela sempre fazia muitas perguntas em sala de aula ou em palestras. E ela respondeu que se estava ali para aprender com aquela pessoa, iria sugar o máximo que pudesse. Que se eles não perguntavam, perguntava ela!
Hoje em sala de aula eu, praticamente, não converso, no sentido de distrair os outros ou a mim mesma, mas sou bem participativa. Como estratégia de não conversar com os outros durante a aula, sempre sento distante das minhas melhores amigas e nesse semestre, especificamente, estou sentando na primeira carteira da fila. Dessa forma, me sinto mais instigada a participar e a prestar atenção. Estou sempre tentando responder aos questionamentos incitados pelos professores, principalmente, aqueles mais complexos, que promovem toda uma dialética. Mas a questão é que eu já me repreendi muito por conta desse meu jeito e aí vem a parte da libertação que eu senti. Quantas vezes fiquei me comparando (e me torturando) com aqueles que nunca abriram a boca nesses três semestres e me critiquei por isso. Porém, hoje entendo que cada um tem as suas características, o seu histórico e os seus propósitos. Entendi que eu não preciso querer ser uma coisa que eu não sou. Claro, desde que eu não perca a mão e o bom senso (provavelmente já fui inconveniente, mas hoje busco a coerência e evito, por exemplo, trazer exemplos da minha vida).
Enfim, hoje pergunto, respondo, mostro interesse, me ofereço para ler os textos e participo. Estou estudando todos os dias para tentar chegar à aula já com certo entendimento sobre o assunto, para também não falar besteira ou fazer comentários desnecessários.
Essa reflexão me lembrou uma mensagem que ficou bem marcada pra mim no final da primeira fase de Psicologia, quando uma professora nos alertou dizendo, mais ou menos, que como somos tudo aquilo que fazemos e dizemos, a nossa postura já em sala de aula, pode dizer muito sobre os profissionais que nos tornaremos. E como seremos colegas de muitos dos nossos professores, é melhor que já tomemos cuidado com a imagem que passamos a eles, desde já.
Se o meu propósito é cursar uma faculdade pelo prazer de estar ali, para expandir meus conhecimentos e como sei de tudo o que renuncio para estar sentada naquela cadeira, quero e vou sugar tudo o que me é oferecido. Assim como os dias, as aulas não voltam mais.
Então, se os outros não perguntam, pergunto eu.
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* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.