Carta aberta às pessoas virgens

* Por Frederico Mattos

São Paulo, 5 de novembro de 2013

Caro(a) virgem

Sinto a sua dor, de verdade, me debati com minhas virgindades por muito tempo. Até os 15 anos não tinha beijado nem laranja ou água de torneira (métodos consagrados para aprender mobilidade lingual) e por pura compaixão uma amiga resolveu minha angústia, mas ficou nisso, nem a iniciativa eu consegui tomar. Fui beijado e depois disso novo período de seca por cerca de 7 anos. Sim, meu caro, fui beijar somente com 22 anos na faculdade com minha primeira namorada, fase em que me descobri sexualmente, aos trancos e barrancos.

A sensação de ser o último na fila e não ter absolutamente nenhum assunto para trocar quando o tema passa pela libido. O que falar quando comentam do beijo delicioso de fulana ou beltrano e você não sabe nem o gosto da sua língua? E como lidar quando você sabe que todo mundo já beijou alguém mesmo numa fim de festa bêbado? Certamente deve pensar que o anjo da sorte te abandonou e que no mínimo deve ser tão repugnante que nenhuma alma bondosa veio até você.

Em se tratando de sexo então o tormento ganha novos ares. Pinto, vagina, sexo anal são coisas que passam longe de você, a não ser que seja o seu próprio. O mais perto que conseguiu chegar de um órgão sexual alheio foi o do seu pai ou mãe quando eles te davam banho na infância. No muito uma revista de mulher pelada.

Me lembro que eu não conseguia entender onde era a vagina. Em épocas pré-internet e a vergonha de comprar uma playboy numa banca de jornal (principalmente quando era uma mulher que trabalhava) me fez achar por muitos anos que a vagina era como um umbigo, só que mais embaixo. Isso era reflexo de filmes água-com-açucar que mostravam casais se deitando na cama para fazer “amor” e quando um deitava sobre o outro logo vinha um sussurro gemido da mulher. Logo, era fácil encaixar, o buraco deveria estar na frente.

Depois de me arriscar a conversar sobre meu receio com meus amigos de adolescência tão virgens quanto eu (sim, os virgens sempre se buscam para consolar a solidão do outro) pude desfazer alguns mitos.

O fato é que essa total inabilidade de me aproximar libidinalmente de uma mulher era uma façanha das mais terríveis. Eu era sempre o bom amigo e ouvinte, nada mais que isso. Não tinha boa aparência e muito menos traquejo ou malícia. Minha ingenuidade não me permitia ver duplo sentido em nada e nem entender uma segunda intenção.

Confesso que a bolha que fui criado me impediu de me arriscar para assuntos típicos que um adolescente gosta. Só com o tempo fui descobrindo que não bastaria eu saber o que eu sabia, mas precisava entrar no mundo da outra pessoa para criar uma sinergia amorosa.

virgem

Eu rezava todos os dias para que o amor batesse em minha porta e o sexo viesse junto, mas sei que esse feito não é para todos. A grande maioria tem sua primeira relação com uma pessoa que pouco conhece, quase num desespero aflito por esfregar-se no corpo do outro e tirar a zica de si mesmo.

Olhando para trás e fazendo uma avaliação de minha perda de virgindade tardia penso que fui cruel comigo mesmo. Sei que agora é fácil dizer isso, mas cada coisa aconteceu no seu tempo. Precisei admitir que o meu tempo não foi o tempo dos outros. Segui um ritmo lento porque sempre foi assim que pude descobrir a mim mesmo. Foi trabalhoso cada passo que enfrentei em minha covardia, preconceito e ignorância.

Acho que se eu tivesse tentado precipitar as coisas seria muito fácil procurar sexo pago, mas minha cabeça não estaria preparada nem para isso.
Antes de me deitar na cama com alguém eu precisei saber melhor quem eu era, quais eram meus sonhos e meus limites pessoais. Descobri que era um romântico idealista e que ninguém precisa atingir a perfeição para dar o primeiro passo em nada.

Se eu pudesse dar um conselho para o virgem que eu fui diria:

“Sexo é corpo, desejo, mente e vida. Prepare seu corpo para isso, cuide de sua alimentação, faça algum exercício para ter fôlego e goste do que vê, mesmo que não seja o ideal. Busque coisas que interessam ao seu coração, as garotas vão se apaixonar por alguém que tem olhos brilhantes pelo mundo que o cerca. Deixe essa palidez de lado, ninguém é tão perigoso quanto parece, todos estão com medo de rejeição como você. Deixe que seus desejos sejam bem-vindos, pois eles conduzirão suas mãos, sua boca e todo o resto na direção do outro corpo. Isso quer dizer que pode começar a arriscar mais e sair dessa sua zona de conforto. Ande por ruas desconhecidas, fale com pessoas desconhecidas e brinque de sorrir com mais frequência. O que vai arrebatar alguém para debaixo dos lençois com você é o tipo de vida que leva e quais escolhas toma, portanto, não se deixe levar pela inércia, cada minuto é hora de virar a chave e dar a partida na direção da mudança. Saia da barra dos seus pais, pare de esperar deles respostas mágicas, eles tem suas próprias preocupações. Descubra as coisas como puder, vá atrás, pergunte para quem sabe, aprenda a confiar no seu instinto. Seja uma pessoa de coração simples e sonhos incríveis e sempre se dê uma segunda chance para cada tropeço, sempre é tempo de recomeçar. O desejo que acontece no sexo começa antes de tudo pelo desejo na vida, e a vida são as pessoas, saiba olhar nos olhos de cada uma delas.”

De Frederico Mattos

 

para venda do livro 2
___________

Avatar fred barba* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

Related posts