7 pecados capitais – Preguiça

*Por José Chadan

PREGUIÇA – o desejo pervertido

A preguiça compõe a lista dos sete pecados capitais. A preguiça não é natural, posto que não há animal na natureza que seja preguiçoso. Nem mesmo o bicho preguiça o é. A preguiça tampouco é um sentimento, antes, ela é um estado exacerbado de repouso.

A preguiça é um conceito inventado pela cultura. Os animais, por exemplo, após comer, fazer sexo e ter as necessidades satisfeitas, deitam-se, até que o relógio biológico os desperte para que satisfaçam as necessidades novamente. Fora isto, podem deitar-se e repousar. Todavia, ninguém seria capaz de chamar um animal de preguiçoso. Porém, se um ser humano fizer as mesmas coisas que acabo de descrever, certamente acusá-lo-ão de ser um preguiçoso.

A preguiça é, portanto, um conceito inventado pelo homem. A preguiça consiste na aversão ao trabalho. O oposto da preguiça é a diligencia, o trabalho.

Fragmento de Os Sete Pecados Capitais, representando a Preguiça – de Hieronymus Bosch

Fragmento de Os Sete Pecados Capitais, representando a Preguiça – de Hieronymus Bosch

Contudo, precisamos frisar que, muitas coisas que comumente as pessoas chamam de preguiça, não deveriam chamar. Explico: um homem sentado, ou mesmo deitado, que aparentemente está em repouso, em estado de preguiça, pode na verdade estar pensando, tentando resolver um problema e, desta maneira, está trabalhando internamente com sua inteligência. Até mesmo no sonho, quando a pessoa está no estado mais profundo do sono, é quando sua mente mais trabalha, produzindo imagens que se formam em sua mente. Não poucas vezes também, é no sono mais profundo, onde as pessoas costumam ter ideias e solucionar problemas que as preocuparam o dia todo.

E, se por um lado, existe uma forma de repouso que parece preguiça, mas não é, pois a pessoa está trabalhando internamente, existe também uma forma de trabalho que nada produz, não sendo digno deste nome. Mas deixemos esta questão a um momento mais propício.

A preguiça foi elencada na lista dos sete pecados capitais, por causar uma certa malemolência, um desperdício da vida que Deus nos deu. Tem relação com a queda do homem do Paraíso e a maldição que Deus lhe deu, de trabalhar e comer com o suor do próprio rosto ( Gn. 3,17-19). A preguiça quebra a ordem divina nos dez mandamentos onde Deus diz que o homem deve trabalhar seis dias e descansar somente no sétimo, à semelhança Dele quando criou o mundo ( Êx. 20,9).

Na tradição cristã, a preguiça é o pecado de não fazer nada de útil com o dom de Deus que é a vida. Já, o trabalho é o castigo de Deus por causa do pecado original que é a desobediência cometidas por Adão e Eva no Paraíso.

Dito tudo isto, resta observar que o trabalho, ou melhor, a preguiça, tem relação direta com a marcação do tempo e que este, embora seja um dos principais conceitos da física e embora, mesmo os mais incultos dos homens perceba sua passagem no envelhecer da própria pele, é ele – o tempo – quem mede o quão preguiçosa ou trabalhadora é uma pessoa. Entretanto, o tempo nunca passou tão depressa como para nós, do século 21. O uso de relógios que marquem os minutos e até mesmo, os milésimos, é prova dessa escassez do tempo em que vivemos. Mas na antiguidade e na idade média e quiçá, no renascimento, o tempo corria bem mais devagar. De modo que a relação com o tempo alterou a visão do homem sobre a preguiça e o trabalho.

Portanto, amigo leitor, é especialmente importante que tenhamos uma visão clara sobre como lidamos com a questão do tempo, a fim de não confundir alhos com bugalhos e não tachar alguém precipitadamente de preguiçoso ou vice-versa.

O importante é trabalhar de alguma forma, utilizar a vida que Deus nos deu, dando sentido e objetivo(s) à ela. Ao término, cito um conselho de Salomão, quando este, já em idade madura, teria registrado sábios conselhos sobre prosperidade nos negócios e na vida em geral. Salomão disse: “O desejo do preguiçoso o mata, porque suas mãos se recusam a trabalhar” (Ecl. 21, 25).

Este parece ser o elemento que faz da preguiça um dos sete pecados capitais: o desejo, ou melhor, a falta de desejo. O preguiçoso não faz nada com os próprios desejos e isto torna sua vida infrutífera. Para vencer a preguiça é preciso trabalhar, mas para trabalhar é preciso ter desejo e fazer algo útil com ele. O preguiçoso necessita resgatar o desejo dentro de si e “mexer” com ele.

 

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BÍBLIA SAGRADA. Revista e corrigida por João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1993.

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* Jzé rosto e terno (1)osé Chadan: Professor, licenciado em história. Bacharel e mestre em filosofia. Escritor, pensador e autor do livro de poesias intitulado, Barca Melancólica (Fonte Editorial). Lecionou na rede de ensino do Estado de São Paulo durante 4 anos. Apresentou palestras para alunos pré-vestibulandos, cursos de jornalismo e participou de encontros e comunicações sobre filosofia medieval e existencialista. Nas horas vagas gosta de assistir cinema, caminhar pelas ruas da cidade e praticar meditação transcendental. Alguns de seus trabalhos estão publicados no blog: www.pistosdarazao.blogspot.com.