Eu não mereço tanto assim – Um diálogo sobre méritos pessoais

* Por Frederico Mattos

Quando uma pessoa afirma que não é amada o suficiente, que não é ouvida com consideração ou ainda que não consegue lutar pelo que deseja por não se sentir merecedora confesso que minha compaixão grita mais alto.

O sentimento de mérito é um dos enganos pessoais, políticos e filosóficos mais disseminados e problemáticos que conheço. A ideia de que alguém tenha algum tipo de privilégio por ter agido bem enquanto o que agiu mal merece uma punição tem sido fonte de grandes violências pessoais e históricas.

Mas por que isso é um problema, Fred?

Porque o bem e o mal são sempre categorias temporais, contextuais e passíveis de manipulação circunstanciais. Quantas figuras históricas foram condenadas em sua época e depois absolvidas pelo tempo? Quanta atrocidade já se cometeu contra mulheres, negros, homossexuais e pobres simplesmente porque o contexto e preconceito vigente pregava o que era o certo?

Repense comigo, você que está aí sentindo-se pouco valiosa e querida, porque seus pais não te deram atenção suficiente, pois ouviu de algum professor que era incapaz ou porque se decepcionou com um “amigo” ou paquera ácido. Que critérios foram usados para avaliar seu senso de importância? Qual a qualificação afetiva ou intelectual que esta pessoa tem para definir o rumo de sua vida? O que aquilo acrescentou na sua melhora pessoal? O impacto de quem fala e de quando fala precisa ser analisado minuciosamente.

Uma das maiores fontes de desagrado pessoal provém dos pais, que constroem o seu senso de importância pessoal, mas eles realmente são habilitados para tanto? Os pais são só pessoas que tiveram filhos, nada mais que isso, logo são passíveis de todo o tipo de limitação pessoal e podem cometer enganos terríveis com seus filhos. Provavelmente eles têm várias justificativas para agirem mal com seus filhotes, e exatamente por isso a visão que carregaram de você pode estar contaminada de uma auto-aversão adquirida dos pais deles. Mas não adote ou perpetue esse auto-engano. Nessa cadeia de deméritos que as pessoas carregam é bem possível que você também seja fruto de alguns insucessos pessoais. Mas isso não invalida nenhum recomeço e nada poderá provar alguma falta de valor irrevogável nessa existência.

Agir bem ou mal não dará valor especial (positivo ou negativo) ao que é, apenas revelará um momento de sua vida que poderá ser modificado a qualquer momento. Estar vivo é o que confere valor para qualquer vida humana e se partirmos desse olhar de profunda compaixão, com os outros e nós mesmos, não tenho dúvida que o mundo se tornará um lugar mais aconchegante para se viver com as pessoas que amamos e somos amados.

No momento em que você se relacionar com a livre potência de viver que habita você o peso do passado ou das críticas (nada) construtivas só comunicarão verdades relativas a quem falou e nada mais. Enquanto isso continue tomando o momento presente como um convite irresistível para tornar tudo mais leve e agradável e não necessariamente melhor.

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Captura de Tela 2013-09-13 às 17.34.09* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.

 

 

 

 

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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