Síndrome de primeira-dama

* Por Frederico Mattos

Você já se perguntou como se sentem as esposas e maridos de celebridades e pessoas disparadamente bem sucedidas?

Chamei isso de síndrome de “primeira-dama” ainda que não ache que ela acometa a maioria feminina.

Não podemos superestimar a bondade humana e imaginar que todos somos um poço de admiração, generosidade e intenções elevadas. Para quem tem coragem de admitir ou se encarar dessa forma sabemos que existem muitos sentimentos obscuros que guardamos das outras pessoas.

Maria Rita, Edinho, Luciano e Neil Murray (marido de JK Roling)

Maria Rita, Edinho, Luciano e Neil Murray (marido de JK Roling)

A pessoa amada não está livre do tipo de competitividade que colocamos em ação, aberta ou veladamente, nos relacionamentos em geral.

Ainda que não seja muito gostoso de assumir desejamos ser notados e apreciados nos nossos talentos. Mesmo aqueles que se vendem como pessoas reservadas, low profile ou tímidas gostariam de se destacar nos seus ofícios. Quem não gostaria de publicar seus feitos, ser premiado em certa ocasião ou até impactar positivamente o mundo em que vive com sua obra?

Prova disso é que os filmes que mostram histórias épicas ou de figuras ilustres capturam a platéia de maneira poderosa. Somos inconscientemente atraídos por imagens ilustres porque nos remetem a uma projeção pessoal em que nos vemos vitoriosos, longe de uma vida comum ou entediante.

Penso na sensação das pessoas que são efetivamente eclipsadas pelo brilho de uma pessoa próxima e nada do que façam poderia ganhar destaque sem algumas comparações inevitáveis.

Maria Rita, filha de Elis Regina, poderia facilmente ser um exemplo dessa síndrome. Eu não faço ideia de como ela administra a comparação vocal e artística com a mãe, mas não imagino que seja fácil driblar a comparação inevitável e até injusta. Cada pessoa tem sua singularidade.

Lembro também do Edinho, filho de Pelé, que curiosamente jogava no gol. Talvez até inconscientemente posicionado num lugar do campo que não poderia ser comparado pelo pai. Parece que sucumbiu em suas próprias sabotagens.

Deve ser um pouco perturbador ser casado com uma estrela absoluta da música ou do cinema sem que sinta essa ponta de inveja envergonhada de si. É o tipo de aflição que seria pouco bem-vinda numa conversa de desabafo. “Meu bem, não sei como dizer, mas depois de você ganhar o Oscar, apesar da alegria recompensada e de saber de todas suas noites mau dormidas, não consigo abafar uma ponta de pesar por mim. Sinto vergonha, mas nada do que eu faça parece superar seu brilho, ainda que isso seja bem vergonhoso de compartilhar.”

Talvez elas racionalizem para si mesmas e tentem se convencer de que se alegram com a conquista alheia. Não duvido que se alegrem. Mas de outro lado abafam em si o mesmo sonho de notoriedade conquistado pela sua celebridade doméstica.

As pessoas imaturas devem se debater internamente até chegar um ponto que a humilhação involuntária se apodere da relação. Quantas vezes podemos deduzir que Luciano, cantor sertanejo, não se conflitou em sentir gratidão e raiva do irmão e parceiro Zezé por não ser a primeira voz e carro-chefe da dupla.

Acredito que seria preciso uma manobra de muita sabedoria e autoafirmação para que o dragão da inveja não domine o bom senso e a felicidade que pode advir do círculo de influência e das realizações do parceiro.

Particularmente acho que as mulheres tem mais generosidade nesse sentido para digerir o anonimato ao lado de uma estrela.

Homens são mais orgulhosos e críticos em seu machismo ao atirar pedras em sua dama ilustre.

E você já se viu algo assim na sua vida ou de alguém próximo?

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Captura de Tela 2013-09-13 às 17.34.09* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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