O mundo não é exatamente como desejamos

*Por Frederico Mattos

Ele transa menos do que ela imagina que deveria transar.

Ela ri menos do que ele imagina que ela deveria se divertir.

Os outros parecem não estar tão entusiasmados quanto esperaram que estariam.

O mundo parece não ser tão colorido quanto pintaram.

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Essas parecem situações imaginárias, mas são bem reais já que são descrições de pessoas falando de seus relacionamentos profissionais, amorosos e familiares. O sofrimento delas não é tanto por uma situação real de desagregação, divórcio ou falência, mas pelo temor de que talvez deveria ser de um jeito que na prática não é.

No primeiro caso ela não consegue se conformar que o namorado de 6 meses já não mostra o ímpeto de arrebatá-la sexualmente todos os dias da semana. Disseram para ela que o “normal” era assim, então quando o namorado não a procura com essa frequência imediatamente cai um peso gigantesco da “sociedade” regularizando sua vida íntima e cobrando mais tesão nessa fase de apatia precoce. “Depois de dez anos tudo bem, mas em seis meses não”, dizem, ou seja, se em dez anos estiverem transando como nunca deve ser por obra de uma aberração.

Nem em um caso e nem em outro esse tipo de métrica consensual deveria ser aplicada, pois na realidade todos se debatem com medidas inventadas sem nenhuma lógica para as pessoas se sentirem contextualizadas e totalmente adaptadas.

A mensagem normativa é “se você é do clube dos que trepam todo dia no primeiro mês é um dos nossos, somos todos normais por consenso”. Ninguém ousa anunciar publicamente que transa menos do que a média e é menos feliz do que mostra a foto no Facebook. Mas nos consultórios de psicologia, nos confessionários, nos puteiros e nas cartomantes o cenário é desolador: todos se sentindo abaixo da média em algum aspecto.

Parece uma dívida nunca paga pela maioria, em que todo mundo está aquém de si mesmo pela maldita regulamentação da média estatística da vida cotidiana.

Para quem se acha ganhando menos, transando menos, viajando menos do que gostaria pense por um instante, estamos todos no mesmo barco pensando o mesmo dos demais. A sua grama é mais verde para o vizinho mesmo você sabendo que ela está para lá de amarela. Se pudesse vender sua grama abaixo do mercado o faria sem nenhum pudor. Numa dimensão subliminar da mente humana estamos todos inquietos com nossa condição, portanto fique em paz com suas faltas e pare de olhar para os céus implorando que o paraíso chegue logo. Talvez os deuses e querubins estejam cobiçando bater a cabeça como nós fazemos divertidamente enquanto pleiteamos asas celestiais a todo momento.

Conformismo? Não, apenas apreciação e saciedade pela experiência tal como é, sem metas ideais ou comparações estatísticas.

 

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Captura de Tela 2013-09-13 às 17.34.09* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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