“Perderia a graça, né?”
*Por Frederico Mattos
Existem pessoas viciadas em intensidade, para tudo precisa de um aditivo emocional: bebida, maconha, cocaína, festa, gente, cachorro-quente, sonhos irreais, brigas, sexo bizarro, enfim, qualquer coisa que possa dar algum tipo de emoção intensa.
Já aviso, isso é sinal de que alguma coisa anda desequilibrada na maneira que encara a vida. As emoções verdadeiras parecem ter sido contaminadas com uma certa visão vendida pela mídia e aceita sem questionamento de que tudo precisa ser expresso de maneira transparente. Por transparente leia-se, grosseiro ou histérico.
Um abraço não pode ser tão comum, mas sim O ABRAÇÃOZÃO FOSTÍSSIMO DO FUNDO DO CORAÇÃO. Dá até canseira esse abraço, não pode ser singelo, leve, quase discreto. Isso seria sem graça.
A lógica de novela de que relacionamento de verdade precisa ser bagunçado, com idas e vindas, suplicado, rasgado, atordoado e alucinado não corresponde ao fatos, mas para algumas pessoas a semelhança não é mera coincidência. Quando algo vai tranquilo e o sexo não é diario, semanal ou furioso o casal se inquieta, se acha anormal, pensa estar doente e começa a criar problema para “normalizar” a situação.
Se talvez as pessoas pudessem diminuir o grau de especulação sobre uma vida cheia momentos marcantes e intensos dariam espaço para viver de verdade suas emoções.
Mas alguns insistentes replicariam: o que seria da vida sem um drama?
A vida sem um drama? Seria mais autêntica, menos manipulativa, menos falseada, mais honesta, mais livre. Talvez a maneira que tenhamos aprendido sentir emoções foi regada em dramatização. Garanto, não é nem de longe a única maneira de viver ao som do coração.
___________
* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos.