Síndrome do Pequeno Poder
* Por Frederico Mattos
Nessa semana houve uma manifestação em Brasília onde o Capitão Bruno ficou conhecido do grande público por justificar seu ataque desproporcional e gratuito aos manifestantes com a seguinte frase “Porque eu quis” [veja aqui].
Esse fenômeno já é muito conhecido e comentado quando falamos de empresas de forma geral que é a Síndrome do Pequeno Poder. Ela se caracteriza pelo uso abusivo de uma posição oficial ou adquirida (por nomeação, força bruta ou dominação psicológica e social) de maior hierarquia de uma pessoa sobre as outras.
Aparentemente podemos pensar num fenômeno exclusivo de meios militares ou policiais, mas infelizmente é uma realidade mais comum do que imaginamos.
Vivemos numa sociedade aparentemente liberal, mas que ainda carrega tons muito fortes de conservadorismo e moralismo. Nas fotos de Facebook não fica explícito esse tipo de comportamento velado ou expressamente agressivo entre pessoas em empresas ou “casas de família”.
Estive num escritório essas semanas e notei algo curioso, uma funcionária se queixava de uma colega e seu comportamento invasivo sobre sua mesa de trabalho. Passados alguns minutos ela se encaminhou para a mesa da tal colega “invasora” e quase a intimou com uma fungada corporativa no cangote que me pareceu bem agressiva.
Ouço com certa frequência alguns pais que superficialmente parecem afáveis e liberais, mas usam de um tipo opressivo de territorialismo do tipo “minha casa, minhas regras”. Parece que todo o tipo de insatisfação que vivem em suas vidas pessoais desaguam numa forma de controle excessivo de cada espaço da casa espremendo os filhos num canto recluso de seus quartos, sem muita voz ou negociação. Como represália dessa opressão a resposta dos filhos é uma certa indolência e “preguiça” perante os “pedidos” dos pais.
Mas até esses mesmos jovens que são pressionados pelos pais quando estão entre seus amigos parecem exercer um domínio psicológico sobre quem pode mais na escola. Eles se impõe sobre colegas socialmente mais inábeis e abusam do seu direito de importunar os outros. Nem digo dos casais apaixonados que vigiam e controlam os passos da pessoa “amada” como seu focus de controle.
Aquela pessoa que por sua vez não tem muita voz em lugar nenhum acaba mandando no gato ou cachorro ou pelo menos se agarrando em algum objeto físico para chamar de seu, só seu…
Nesse ciclo interminável em que cada um se assumo senhor de algum tipo de escravo emocional podemos perceber como a nossa vida carece de riqueza psicológica.
A base dessa Síndrome de Pequeno Poder parece ser esse tipo de mesquinhez que se apodera daquilo que cerca uma pessoa e reduz sua capacidade de ser afetiva e empática, em que mesmo num espaço mínimo ou chefiando um exército de uma pessoa só ela se sente acima do bem e do mal. Talvez sem que o perceba ela se sinta transitando num panteão imaginário de deuses modernos (ainda que por dois minutos) achando que pode interferir no destino do mundo dos outros como se não fosse um problema em si. O mais agravante é que a pessoa acometida dessa síndrome está convicta de que age por um bem maior como a justiça, a ordem, o bem e o amor romântico.
Penso que não seja um movimento tão simples para se modificar, mas certamente essa mudança para a busca de uma vida mais significativa, afetiva e relacionamentos e formas de trabalho mais humanizadas. A pessoa feliz raramente sente necessidade de exercer alguma espécie de domínio invasivo sobre a vida do outro. Ela espalha seu perfume, quem quiser tem a plena liberdade de a acompanhar.
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos