* Por Frederico Mattos

Ouço com certa frequência esse desabafo de alguns que já caminham pela vala da desilusão amorosa e não deixo esconder meu ar intrigado diante dessa afirmação até agressiva do ponto de vista filosófico.

“Nem essa flor é interessante”

Estamos todos em contato com uma realidade que não existe desconectada de nós e até co-criada a cada minuto pelo colorido de nosso estado interior. Cada nova experiência que alcançamos é a manifestação de uma interação retroalimentada em mundo externo e interno incessante. Quando eu aponto um pássaro que voa encantador diante de mim na verdade também anuncio para o mundo que é o encanto de um pássaro que me toma por dentro. Não estamos dissociados do que nos cerca e quando falamos de uma pessoa na realidade denunciamos um pouco do que somos.

Quando uma pessoa afirma que ninguém é interessante, mais que afirmar que todos aqueles que trombaram com ela eram estéreis de vida ou alegria ela coloca um letreiro sobre si mesma anunciando que seu olhar não se interessa por ninguém. O pouco entusiasmo que percebe nos outros revela seu pobre envolvimento com a realidade que a cerca. É quase como se já não debruçasse na janela para apreciar a paisagem.

Nessa certa apatia emocional não se envolve com as histórias contadas pelos outros e não tira proveito de situações que não são suas. Posso até arriscar que a pessoa que nada vê de interessante talvez esteja apenas concentrada em si mesmas e suas necessidades ignorando os outros em suas particularidades.

Se a luz do interesse se apagou do lado de fora é porque um olhar interior se fechou para o convite inusitado da vida. Essa pessoa talvez esteja até acometida de certa soberba de quem já acha que viu, viveu, experimentou, leu e conheceu tudo na vida e que nada mais lhe causaria surpresa. Estranhamente esse tipo de pessoa já garante imagens pré-concebidas de tudo por meio de um olhar superficial e pouco esforçado. As melodias que tira da realidade são melancólicas e até pessimistas.

Ao induzir que as pessoas são falsas, fúteis, banais ou não prestam mais uma vez deixa escorrer pelos comentários venenosos o tipo de paisagem mental que ela habita. Alguém que vê apenas guerra, maldade, traição e abandono potencial estaria com certa precisão alimentando esses valores em si.

Por entender o quanto de nossas afirmações são mostruários de nossa mente é que penso duas vezes antes de ser taxativo sobre algo, pois talvez eu esteja mais falando de mim do que do outro.

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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos