Tolerância zero
Toda pessoa em algum momento já se flagrou mentindo, fingindo e abertamente dissimulando coisas e mesmo assim se justifica, explica, protege e se reabilita.
Na tentativa de manter sua autoimagem intacta o sujeito não mede esforços para justificar o injustificável. O problema não é tão grande, a falha não causou tanto prejuízo e a dívida pode esperar um pouco mais para ser paga.
Observo as pessoas falando dos impasses amorosos e noto o velho “dois pesos, duas medidas”, pois a falta de pedido de desculpas dela é menos nociva do que a dele. E assim muitos casais passam anos numa troca de acusações sem fim seguidas de mil justificativas. Tudo para preservar uma integridade vazia que chama de honra ou orgulho próprio.
No que se refere aos erros e escorregões alheios a mesma compaixão não ocorre, somos implacáveis. Atacamos para valer e seguimos para cima como paladinos da verdade e do amor ao próximo. Se questionados alegamos fazer o bem ao próximo em nome de sei lá o que. O importante é ter a brecha de acusar.
Se Jesus tivesse proposto o mesmo dilema daquele que tiver sem pecados muitos atirariam a pedra, por atirar.
Quem dera essa fúria mascarada de honra ou busca pela verdade pudesse criar aberturas, janelas e opções para que os outros (e nós mesmos) pudéssemos ser falíveis e mesmo assim seguir amados e acolhidos.
Essa mesma faca afiada que atiramos nos outros sem que se perceba está sempre cravada na nossa nuca. Mesmo em nossa complacência com nossos erros nos culpamos mais do que deveríamos exatamente por reconhecer nossa própria falibilidade.
O ponto central é que ao avaliar os outro o critério é a forma concreta da ação ignorando as intenções, mas quando a ação é nossa ignoramos os efeitos dela e nos defendemos usando a nossa essência como justificativa e alegando boas intenções.
Difícil aceitar as contradições humanas sem se chocar, agredir e indignar. Quem dera pudéssemos abrir um diálogo honesto com os outros e nossa própria consciência. Penso que seria um bom caminho para a paz em meio ao caos das incoerências humanas.