Eu trabalho com fantasmas
Sim, sou um terapeuta de fantasmas, não aqueles que dizem assombrar mansões endiabradas, mas aqueles que habitam o imaginário humano.
Quando uma pessoa fala sobre um amor perdido, um emprego encerrado ou a morte de um entende querido eu procuro mergulhar no seu mundo psicológico (quase literalmente) e enxergar sua casa mental mal-assombrada.
Ali vejo restos de sentimentos, fuligem psicológica do passado, imagens completamente desgastadas e visões desidratadas da vida.
O cenário não é dos mais propícios e daí vem a confusão mental que fazemos entre realidade concreta e realidade interna. Raramente falamos da realidade concreta, mas sim da interna e é ali que meu trabalho começa.
Se eu fosse argumentar sobre o João da Silva eu estaria caindo no engano de tratar inadequadamente sobre uma pessoa que não conheço. Trato do João da Silva imaginário com o qual a pessoa se relaciona, pois é esse que afeta as decisões e impressões dela.
Quando ela fala do amor corrompido por uma desilusão não me importo se o cara foi um cafajeste ou não de fato (não tenho acesso a essa informação fidedigna), mas com a necessidade da pessoa alimentar uma relação imaginária com uma figura que a desilude. Normalmente noto que a pessoa sustenta essas imagens mentais como uma forma de preservar uma dignidade, integridade pessoal ou apenas se vingar de uma figura imaginária.
Ao não abrir mão do cafajeste e maldizê-lo constantemente a pessoa permanece aprisionada com ele numa cela de indignações. Ela o mantem ainda que alegue não conseguir se desligar dele.
O apego a essas imagens internas é que prejudica o desenvolvimento das pessoas. O João da Silva pode ser até igual ao que é relatado, mas na hora decisiva é da imagem mental dela que estamos tratando e de como se relaciona com a importância que dá a ela.
Meu trabalho é fazer perguntas, constatações, provocações, visualizações que apontem alternativas, novas fontes internas de nutrição e caminhos menos doentios.
Nessa hora cirúrgica que surge o dilema de cada um em abandonar imagens e sensações fantasmas para se envolver no presente cheio de ambiguidades da realidade que está diante dos olhos.
Há quem prefira ficar “amarrado” numa história imaginária a ter que enfrentar os riscos do novo.
Eu não posso sequestrar ou caçar os fantasmas de ninguém, apenas convidar a pessoa para uma vida nova.