* Texto de estréia de José Chadan

São quatro os tipos básicos de amor que como humanos, somos capazes de expressar por alguém: erótico, storge, philia e ágape. Falaremos um pouco deles:

Jovem defendendo-se de Eros. Pintura de Bouguereau (1825–1905).

A primeira forma de amor, se assim podemos chamar, por ser ela de certo modo expressão da libido,  seria a do amor erótico. Recebe este nome, por causa daquele semi-deus grego, chamado Eros, aquele cúpido em forma de um menino com asa que sai por aí, flechando as pessoas e, a quem é tocado pela flecha, apaixona-se perdidamente.

O amor erótico seria a expressão do amor sensual, entre homem e mulher ou mesmo, entre homem e homem ou entre mulher e mulher. O amor erótico é a expressão do amor sensual.

E, muito embora desejemos pensar que este tipo de amor é algo de mágico e misterioso, talvez possamos encontrar o seu desabrochar, pela afetação e resposta que certas características de determinadas pessoas despertam em nós, qual seja: atração e desejo. Neste tipo de amor, especificamente, um desejo quase “canibalesco” e de possuir o “objeto” desejado.

É um amor que busca na sensualidade, a satisfação pessoal e o apaziguamento das pulsões e anseios do corpo e das emoções. Talvez pudéssemos afirmar de que o amor erótico é  a forma de amor mais egoísta que como humanos podemos expressar por outro ser humano, seja ele homem ou mulher.

Uma outra forma de amor é o amor de amizade, denominado pelos antigos gregos de Philia.  Philia é o amor caracterizado pela amizade.  Ora, a amizade envolve interesses em comum, afinidades e objetivos comuns aos amigos. Como se diz comumente, e como C. S. Lewis  afirma em uma de suas obras: os amantes (namorados) olham um para o outro, ao passo que os amigos olham ambos para frente e na mesma direção (cito de cabeça).

O amor erótico, o cupido, faria com que os amantes olhassem um para o outro, já em se tratando do amor de amizade (Philia) ocorreria que os amigos olhariam para frente e na mesma direção, numa ajuda mútua para alcançar seus objetivos.

Haveria ainda um amor de ternura, chamado em grego, Storge. Storge é o que se sente em relação a um filho ou a um sobrinho ou mesmo, a um bicho de estimação. É um amor de cuidado, que se nutre por quem se ama, com o intuito de proteger.

E, finalmente, no topo das formas de amor, estaria o amor cristão: Ágape. Ágape seria a forma mais divina de amor. Se dá quando se ama não para obter prazer sensual como no caso do amor erótico. Quando não se ama para ter uma relação “toma lá da cá”, de troca (mesmo que positiva). O amor ágape seria semelhante ao amor que Deus nutre por nós. Ama e se doa gratuitamente e sem esperar absolutamente nada em troca.

Haveria ainda um outro tipo de afeto, as vezes confundido com amor (amor romântico), chamada na verdade de paixão. Do grego Pathos, que quer dizer, sofrimento. A paixão em si não é ruim. O que pode ser bom ou ruim, é o modo como lidamos e utilizamos a paixão que num dado momento da vida, sentimos por esta ou aquela pessoa.

Quando vemos alguém em situação difícil, podemos ser tomados pelo sentimento de com-paixão (sofrer junto). Neste sentido, a com-paixão que sentimos por alguém numa situação difícil pode ser boa, se a utilizarmos para ajudar a referida pessoa, mas pode ser ruim, se nos paralizar ou fizer sofrer simplesmente por sofrer, sem nenhum proveito nem para mim nem para outrem.

O que queremos dizer é que SOU EU, enquanto pessoa, quem decido o que fazer com a paixão quando a sinto. E torná-la boa ou ruim, só depende de mim. De como eu a manipulo para o bem ou para o mal.

A paixão poderia também ser algo bom para iniciar uma relação. Seria como que o motor inicial. Mas ela é também o resultado do trabalho das glândulas do corpo e tem tempo determinado para acabar. Por isto, ou ela finda e os namorados terminam o relacionamento e vão pousar em outros ninhos (e talvez nunca parem, indo de ninho em ninho, buscando interminavelmente e infantilmente este sentimento chamado paixão), ou então, a paixão terá de amadurecer para um “fogo” mais brando como o do amor philia e storge, capazes de tornar uma relação a dois mais madura e sadia.

Se conseguirmos utilizar a paixão para entrarmos numa relação, fazendo ambas pessoas crescerem na relação, estarei tornando BOA a paixão. Mas, se ao contrário, utilizarmos a paixão para objetificar o outro a fim de saciar somente uma das partes, a relação tornar-se-á parasitária e então, estaremos fazendo mau uso da paixão. A paixão em suma, é boa, quando escolhemos fazer bom uso dela e quando, ao passar o seu “fogo devorador”, ao invés de deixarmos a pessoa que supostamente causou em nós a paixão, buscando equivocadamente outra (pois assim como a paixão apagou uma vez, apagará uma segunda e terceira e até a quintagéssima vez)compreendermos que já é tempo de deixar que a paixão ceda lugar a uma forma de amor mais branda, próxima da amizade e da ternura. O que não significa que o desejo se extinguirá, pois haverá também nesta relação que amadurece, o elemento do amor erótico e de desejo sensual.

Não se trata aqui de hierarquizar as formas de amor, colocando um amor acima de outro (embora existam sim, amores superiores, desapegados em certo sentido e que buscam o bem-estar de outrem de maneira sadia). Se trata, muito pelo contrário, de mostrar que na vida humana, na experiência dos relacionamentos que nutrimos ao longo dela, podemos expressar o amor basicamente nestas quatro formas. E que nem sempre eles estão separados como aqui os mostramos, mas muitas vezes ocorre de sentirmos mais de um tipo de amor por esta ou aquela pessoa.

Então amigo(a), perceba que tipos de relações você vem nutrindo e que tipos de amor estariam imbricados nelas, a fim de alcançar um relacionamento de amor e afeto positivo e saudável, de crescimento pessoal e espiritual para você e a outra parte envolvida, seja ela um amante (namorado ou namorada ou mesmo, um amigo ou amiga).

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foto tirada por Luiz Cunha

*José Chadan possui bacharelado e licenciatura em filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2004) e licenciatura plena em História pelo Centro Universitário Assunção (2006). Lecionou no ensino público de São Paulo durante quatro anos e é também autor do livro de poesias intitulado Barca Melancólica (Fonte Editorial). Apresentou comunicações em conferências realizadas pela SOBRESKI (Sociedade Brasileira de Estudos Kierkegaardianos), deu palestras para alunos de universidades e institutos. Atualmente é mestrando em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Seus principais trabalhos estão publicados em blogs e em sua pasta compartilhada na web. www.filosofandonocolegio.blogspot.com www.papirosfilosoficos.blogspot.com

BIBLIOGRAFIA

PARA SABER MAIS SOBRE EROS, ESTE SEMI-DEUS EM FORMA DE CUPIDO, LEIA O BANQUETE, DE PLATÃO.

PARA SABER MAIS SOBRE AS QUATRO FORMAS DO AMOR, LEIA: OS QUATRO AMORES, DE C. S. LEWIS